Título: Alta ansiedade
Autor: Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 05/04/2007, Economia, p. 21

Controladores de vôo se queixam de pressão maior após recuo de Lula

BRASÍLIA. Muito insatisfeitos com a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de voltar atrás no acordo fechado semana passada, e sem grandes indicações positivas no encontro de terça-feira com o ministro Paulo Bernardo (Planejamento), os controladores militares de vôo trabalharam ontem sob forte pressão, reclamando das condições impostas pelos oficiais. Apesar de negarem que estejam organizando novas paralisações na Páscoa, os dirigentes do setor dizem que a situação é como "pólvora pura" e não descartam a possibilidade de novas greves.

Eles lembram que, na sexta-feira, mesmo sem a orientação dos sindicatos e associações da categoria, alguns controladores resolveram fazer o protesto que culminou na rebelião. Eles se dizem coagidos pelos oficiais que, com o recuo de Lula, estariam sendo bastante autoritários, ameaçando com perda de cargo e até prisão.

- Está parecendo a época da ditadura (1964-1985). Estão tratando a gente como lixo - disse um dirigente, acrescentando que seu celular teria sido grampeado e que os controladores não puderam trabalhar com seus telefones móveis nem ter acesso à internet ou a qualquer outro meio de comunicação externa em todos os Cindactas.

- Não podemos nem ir para a área de descanso - disse outro.

Apesar do clima tenso, a orientação dos dirigentes aos controladores era a de esperar passar a Páscoa, como prometido a Paulo Bernardo, para voltar a negociar. Mas o sentimento é de ceticismo e desânimo, com alguns até falando em pedir baixa do posto. E os civis já começam a se afastar da causa de seus colegas militares.

O presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, disse que ele e o ministro da Defesa, Waldir Pires, ficarão em Brasília no fim de semana para monitorar os aeroportos. (Patrícia Duarte e Geralda Doca)