Título: Controladores pedem perdão
Autor: Doca, Geralda e Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 06/04/2007, Economia, p. 17

Categoria se desculpa por "traumas" causados à sociedade. FAB reforça segurança.

Sob ameaça de punição e tentando convencer o governo a reabrir negociações, os controladores de vôo militares fizeram ontem uma retratação pública. Em nota, pediram perdão à sociedade brasileira pelos "grandes traumas" decorrentes da greve da categoria há uma semana, que fechou os principais aeroportos do país. No texto, divulgado em seu site, a Associação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo (ABCTA) reafirma ainda respeito aos pilares da Aeronáutica - hierarquia e disciplina - e a seus superiores.

Na avaliação do Comando da Aeronáutica, a nota é um sinal de que os controladores "jogaram a toalha". Mas, por precaução, a FAB decidiu reforçar os sistemas de segurança, para evitar qualquer risco de panes no feriado da Páscoa - acidentais ou decorrentes de sabotagem.

"Pedimos perdão à sociedade brasileira e paz para voltarmos a executar com maestria nosso trabalho", diz a nota, acrescentando que a ABCTA não medirá esforços para recuperar a imagem da categoria. A entidade ainda reafirma a confiança e o respeito em relação ao governo federal, ao Comando da Aeronáutica e às "bases do militarismo: hierarquia e disciplina".

No texto, o presidente da ABCTA, Wellington Rodrigues, pede que a paralisação do tráfego aéreo seja entendida como um "grito de socorro", e não como "uma simples rebelião de militares". Ele termina com os dizeres: "Paz nos céus! Feliz Páscoa!".

O texto foi fechado na madrugada de quinta-feira. Segundo Moisés Almeida, vice-presidente da Federação Brasileira dos Controladores, um dos objetivos é tranqüilizar as autoridades. Na próxima semana, revelou, o governo vai divulgar um cronograma com todas as ações para desmilitarizar o setor e criar uma gratificação especial. Além disso, pesa o enquadramento a que os controladores estão sendo submetidos pelo Comando da FAB. Os sargentos que se rebelaram são alvos de investigação em três inquéritos policiais militares (IPMs).

- O recado que o governo nos deu foi: retomem a normalidade e aguardem - disse Almeida.

Sindicato descarta nova paralisação

A nova estratégia da entidade não se resume à nota. Segundo fontes militares, os líderes começaram a atuar nos órgãos de controle para acalmar os ânimos dos sargentos mais revoltados. Eles estão chamando os colegas num canto, pedindo calma e que o serviço seja executado sem alteração, disse um controlador. O governo aprovou a iniciativa.

- Acho que é um gesto importante, num momento em que todos precisam de tranqüilidade para tomar decisões - disse o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, interlocutor do governo junto aos controladores.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou com interlocutores que estava mais tranqüilo com a restauração da autoridade da Aeronáutica e o bom andamento dos aeroportos. No Rio, o ministro da Defesa, Waldir Pires, disse que o governo inteiro estava "empenhado em restaurar todas as condições de viagens aéreas" e tinha esperanças de um feriado calmo.

O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, também entrou na batalha para consertar os estragos e reduzir conflitos, e enquadrou os comandantes dos centros de controle do tráfego, os Cindactas, para restabelecer a normalidade. Saito teria ficado irritado com as notícias publicadas sobre excessos no tratamento aos revoltosos, sobretudo dos oficiais.

Numa atitude de retaliação à decisão inicial do governo de anistiar os amotinados, os coronéis haviam mandado, no sábado passado, seus oficiais se retirarem das salas de controle. Além disso, em alguns centros, os sargentos que aderiram ao movimento passaram a ser tratados como dissidentes e receberam ordens de trabalhar à paisana, com acesso restrito dentro das unidades e comunicação com o exterior proibida.

Saito disse que não vai tolerar revanchismo e mandou que a Polícia da Aeronáutica - que desde terça-feira só permite a entrada de quem está de serviço - se retirasse das redondezas do Cindacta 1 (Brasília).

O presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores na Proteção ao Vôo, Jorge Botelho, negou ontem que os controladores de vôo civis planejem parar as atividades no feriado. Segundo ele, boatos aumentam a confusão e o descrédito da categoria.

- Os controladores civis mantêm o estado de greve, mas apenas por uma questão burocrática - disse.

COLABORARAM Erica Ribeiro e Cristiane Jungblut