Título: Ministro do Desenvolvimento diz que câmbio não terá solução a curto prazo
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 06/04/2007, Economia, p. 19

Miguel Jorge afirma que empresas precisam se tornar mais competitivas.

BRASÍLIA. O novo ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, mostrou ontem que não adotará - ao menos em público - a postura crítica de seu antecessor, Luiz Fernando Furlan, em relação à política de juros e de câmbio da equipe econômica. Ao deixar uma reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ele afirmou que não há solução de curto prazo para o problema cambial e que as empresas precisam passar por um processo de modernização que aumente sua competitividade.

Ao ser perguntado se seria porta-voz, no governo, do setor produtivo, que reclama constantemente da excessiva valorização do real em relação ao dólar e dos juros elevados, Jorge afirmou:

- Não. Quando você está num governo, você está num time. São 11 atacantes e tem um técnico. Eles seguem a orientação.

Ministro não vê mudança a curto prazo no câmbio

O ministro trouxe a Mantega o recado de que pode não ser a solução, mas também não será um problema para a equipe econômica. Jorge admitiu que o caminho para um câmbio mais equilibrado passa pela redução das taxas de juros, mas destacou que o governo pode adotar outras estratégias que ajudem as empresas a se tornarem mais competitivas, como a redução de alíquotas para compra de máquinas e equipamentos.

- O que precisa ser feito, no caso da indústria, é ganhar produtividade, ganhar eficiência. São outras medidas, se reinventar para concorrer mesmo. Porque dificilmente haverá uma mudança grande ou substantiva no dólar - disse Jorge, acrescentando que também é preciso eliminar gargalos como a dificuldade que as empresas têm hoje de compensar créditos do ICMS com exportações.

Para ele, a cotação do dólar deve se manter em torno de R$2. O setor empresarial, no entanto, alega que esta situação está provocando um aumento das importações, que acaba prejudicando a indústria nacional. Essa visão era compartilhada por Julio Sérgio Gomes de Almeida, que acabou deixando o comando da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda esta semana, depois de ter criticado a política cambial publicamente.

Os dois ministros disseram que a adoção de medidas, como a redução de alíquotas de importação, para reduzir o fluxo de dólares para o Brasil não resolve o problema.

- A economia brasileira já está bastante aberta, pois as importações estão crescendo de forma expressiva. Isso compensa qualquer alíquota. Se você tem uma alíquota (de importação) de 12%, e o câmbio se desvalorizou entre 20% e 30% nos últimos dois anos, acabou (o efeito de redução) da alíquota - disse o ministro da Fazenda.

Jorge acrescentou:

- É mais ou menos como tomar aspirina para reduzir a febre. Isso não resolverá o problema que causou a febre.

Mantega admitiu que o saldo comercial elevado é um dos responsáveis pela valorização do real, pois o aumento das exportações provoca uma enxurrada de dólares no país, mas lembrou que há outros fatores que contribuem para um equilíbrio da taxa cambial:

- É bom que haja saldo comercial, mas ele não precisa ser tão expressivo. Existem fatores que vão acabar equilibrando o câmbio: crescimento maior da economia, que leva a uma importação maior, reservas cada vez maiores e juro menor.