Título: Sesgurança nas eleições preocupa o Timor
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 06/04/2007, O Mundo, p. 23

Governo e ONU querem evitar que episódios de violência prejudiquem escolha do novo presidente na segunda-feira.

DÍLI. O representante especial das Nações Unidas para o Timor Leste, Atul Khare, reiterou ontem sua confiança no processo eleitoral do país.

¿ Tenho fé de que esta será uma eleição pacífica ¿ disse.

Pode ser. Mas hoje de manhã, uma reunião a portas fechadas entre o Secretariado Técnico da Administração Estatal (STAE, o organismo do governo timorense que organiza as eleições), a ministra da Administração, Ana Pessoa, e os comandantes da Polícia Internacional da ONU e da Força de Estabilização Internacional (FEI, composta por soldados australianos e neozelandeses) vai determinar como garantir a segurança dos cerca de 510 mil eleitores que na segunda-feira, dia 9, votam para presidente da República.

Militar foragido defende o voto em branco

A segurança é um item fundamental numa disputa que tem como pano de fundo escaramuças e atos violentos entre os partidários dos oito candidatos a presidente. E o comando internacional que garante a segurança não quer arriscar o sucesso da primeira eleição presidencial depois da independência formal do país, em 2002.

¿ Nossa preocupação principal é garantir que a eleição ocorra normalmente em todo o país ¿ diz Tomás do Rosário Cabral, diretor-chefe da STAE. ¿ Mas nossa maior preocupação é Díli, onde estão cem mil eleitores.

Díli é importante não apenas por ser o maior colégio eleitoral do país, mas por estar bem próxima do subdistrito conhecido como Same, 80 quilômetros ao sul da capital, em cujas montanhas se esconde hoje o inimigo público número 1 do Timor Leste: o major Alfredo Reinado.

Ano passado, Reinado iniciou um processo de sublevação na Polícia Nacional, espécie de polícia civil do país, ao dizer que as promoções eram feitas por critérios étnicos e não por mérito. Por serem timorenses loromonos (do oeste do país, considerados lenientes com os indonésios na época da invasão), estavam sendo preteridos em favor dos lorosaes (do leste, considerados mais combativos).

Os conflitos foram parar nas ruas de Díli, com uma onda de violência entre os dois grupos, que deixou cerca de 40 mortos. As incipientes Forças Armadas foram acionadas para conter os amotinados, mas foi preciso a chegada de mais de três mil homens da Polícia Internacional da ONU e da FEI para que a quase guerra civil não se transformasse num conflito capaz de inviabilizar o país. Reinado fugiu para as montanhas, de onde pede o voto em branco como protesto.

O comandante australiano da FEI, brigadeiro Mal Rerden, disse que o fugitivo não é ameaça à paz e que as escaramuças entre eleitores são um perigo maior.

¿ Alfredo Reinado é um fugitivo, e, como tal, não tem direitos. Vamos achá-lo ¿ afirmou.

Mês passado, Reinado quase foi preso por uma força australiana e cinco de seus comparsas foram mortos.

Líder religioso mais importante do Timor, o bispo Alberto Ricardo pede paz à população.

¿ Os jovens são a esperança da nação e precisam se afastar das violência ¿ disse.

Xanana Gusmão culpa Fretilin por distúrbios

O bispo deu um recado às várias gangues de jovens desempregados que, com a desculpa de cultivar o hábito das artes marciais, vêm aterrorizando bairros mais pobres de Díli, um problema considerado grave na capital.

¿ É um caso de polícia ¿ disse o presidente da República, Xanana Gusmão. ¿ Mas as eleições vão ocorrer sem maiores problemas.

Xanana culpou o partido rival Frente Revolucionária do Timor Leste Independente (Fretilin) pelos violentos confrontos que antecedem as eleições. O presidente advertiu que uma espiral de violência pode ocorrer se o candidato do partido, Francisco Guterres, perder. Pelo menos 30 pessoas ficaram feridas na quarta-feira num enfrentamento entre eleitores.

¿ Agora o mundo pode ver que há um partido que, em vez de pedir calma a seus simpatizantes, permite que eles provoquem, atirem pedras, lutem nas ruas ¿ disse o presidente.