Título: Petista de primeiro mandato, ligado a Marta e Dirceu, pode relatar CPI
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 07/04/2007, O País, p. 4

Vaccarezza conquistou a confiança de Chinaglia, presidente da Câmara.

BRASÍLIA. Com os principais quadros dos moderados do PT postos fora de combate pela crise do mensalão, o deputado de primeiro mandato Cândido Vaccarezza (PT-SP) é o mais cotado para assumir a relatoria da CPI do Apagão Aéreo. A instalação da comissão é considerada uma questão de tempo pelos líderes governistas, que preparam uma tropa de choque para evitar que a oposição tente transformá-la numa nova CPI do Fim do Mundo. Integrante do grupo político da ministra do Turismo, Marta Suplicy, Vaccarezza cresceu no partido ao assumir a coordenação da campanha do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Ele diz que não há ainda decisão, mas que aceita qualquer missão.

- Quem vai decidir o relator são os líderes do governo e do PT. Eu pego qualquer tarefa, pode ser boa ou espinhosa. Não tenho qualquer problema quanto a isso - diz Vaccarezza.

Espaço conquistado com afastamento de mensaleiros

O apoio a Chinaglia lhe rendeu o comando do grupo de trabalho que atua na consolidação das leis. A experiência não é nova, pois já havia cumprido essa tarefa como deputado estadual na Assembléia de São Paulo. Ele conta que descobriram que São Paulo tinha 33 mil leis, das quais foram revogadas 13 mil, e outras cinco mil ficaram prontas para serem revogadas, porque eram inconstitucionais ou estavam em desuso pela aprovação de novas leis sobre o mesmo assunto. Agora, a confiança de Chinaglia pode lhe garantir um papel de destaque na CPI.

- Ele entrou de cabeça na campanha do Arlindo, nós não podíamos aparecer - resume o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), que, a exemplo de outros quadros experientes como Paulo Rocha (PT-PA) e José Mentor (PT-SP), estão mergulhados desde o escândalo do mensalão.

Os petistas o definem como um homem de bastidor, que prefere a articulação política. Mas dizem que, às vezes, ele é capaz de ter atitudes pirotécnicas, que acabam prejudicando seu trabalho de costura político, e citam como exemplo a foto publicada na imprensa no dia em que almoçava com o deputado Paulo Maluf num restaurante badalado pelos políticos. Os adversários reconhecem que ele tem iniciativa política, é afável no trato e dialoga com facilidade.

Numa conversa informal, ele se mostra bem humorado:

- Agora que o Chinaglia mudou a pronúncia do seu nome para "Kinália", vou pedir para me chamarem de "Vacaretsá" - brinca.

Vaccarezza é mais um da legião de políticos que saiu da esquerda católica e que militou no movimento estudantil antes de entrar na vida pública. Na década de 60, ele militava na Ação Popular (AP), e quando a maioria dessa organização, no início da década de 70, decidiu se incorporar ao PCdoB, participou da criação da AP-ML (Marxista Leninista). Quando o PT foi fundado, participava de uma tendência que hoje se chama Força Socialista, da qual foram integrantes Ivan Valente (PSOL-SP) e Nelson Pellegrino (PT-BA). Dela se desligou em 1987, entrando na Articulação.

- Com a queda da cúpula da Articulação, envolvida no escândalo do mensalão, ele virou um astro da bancada. É bom articulador e não é do estilo truculento - sintetiza Ivan Valente.

Baiano, formado em medicina, Vaccarezza foi da diretoria da UNE em 1979, ano da reconstrução da entidade. Em sua página na internet, na galeria de fotos, uma delas é daquela época. Ele aparece ao lado do ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e do ex-deputado Marcelo Barbieri. Militante do PT, em 1994, participou do racha entre os moderados, o Hora da Verdade, juntamente com Rui Falcão e outros que hoje integram a tropa de choque da candidatura à Presidência da República da ministra Marta Suplicy.

Deputado faz a ponte entre Marta e Dirceu

Formado na escola do movimento estudantil, Vaccarezza não é da turma do movimento sindical nem é daqueles que têm intimidade com o presidente Lula. Novo na cena política nacional, também não tem ainda tentáculos no governo federal. Mas os petistas dizem que ele faz uma ponte entre o ex-ministro José Dirceu, que ainda tem muita força na luta interna do partido, e a ministra Marta Suplicy.

Os dois, Dirceu e Marta, não se bicam. A força de Vaccarezza no Parlamento está relacionada diretamente à chega da Chinaglia à presidência da Câmara. Vaccarezza foi um dos articuladores do primeiro encontro entre Chinaglia e o atual ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, que deu início aos entendimentos para o acordo político que garantiu a apoio do PMDB ao atual presidente da Câmara, em troca do apoio a um peemedebista em 2009.