Título: Epidemia de dengue pode se agravar no Brasil
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Fonte: O Globo, 07/04/2007, Ciência, p. 26

Mais doenças ligadas à falta de água no Hemisfério Sul.

BRUXELAS. O novo relatório da ONU sobre mudanças climáticas alerta para os efeitos do aquecimento global sobre a saúde humana, com o aumento dos casos de doenças tropicais, das enfermidades provocadas pela falta de água tratada ou pela seca e afirma que os países do Hemisfério Sul, sobretudo os mais pobres, serão os principais afetados.

O documento não chega detalhar o impacto na América Latina, mas o coordenador do grupo de Saúde do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), o brasileiro Ulisses Confalonieri, afirma que o Brasil poderia ter períodos mais longos de epidemias de verão, como a dengue. Outras doenças, como a malária, poderiam ampliar sua área de distribuição.

¿ As epidemias de dengue, que hoje vão de dezembro a março, em média, podem ganhar mais um ou dois meses, por exemplo. Outro problema importante são os movimentos migratórios. Se forem confirmados cenários de seca ainda maior em Norte e Nordeste do país (um dos cenários do relatório da ONU), podemos estar diante de novos inchaços das grandes cidades e, com ele, nos ver diante da redistribuição das doenças, problemas sociais com o sistema de saúde, entre outros ¿ afirma Confalonieri, que é pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz.

Migração já originou dois mil casos de malária

Segundo Confalonieri, foram identificados na cidade de São Paulo cerca de dois mil casos de malária provocados pelo deslocamento da população, seja por movimentos migratórios, seja por caminhoneiros em trânsito pelo país. De acordo com especialistas brasileiros, se nada for feito para conter o aquecimento global, o Brasil poderá registrar nos próximos anos a expansão dos transmissores e, além de um aumento nos casos de dengue, mais casos de doenças como a malária e o cólera. Existe ainda a expectativa de que cresça a população de barbeiros, transmissores do mal de Chagas.

No entanto, estes pesquisadores alertam para o fato de o número de casos destas doenças ser alto no Brasil independentemente do impacto do aquecimento global.

A explicação é simples: existe hoje no país uma grande vulnerabilidade, principalmente nas regiões mais pobres em função da falta de alimentação, de educação e de sistema de saneamento básico. Por esta razão, salientam a importância de aumentar os investimentos em saneamento e educação.