Título: Apagão na gestão
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 08/04/2007, O Globo, p. 2

A greve dos controladores de vôo está para o governo Lula como o apagão de energia elétrica esteve para o governo Fernando Henrique. O apagão do tucano, pela amplitude dos atingidos, custou caro do ponto de vista eleitoral. Nos dois casos, a competência dos governos foi colocada em dúvida. Eles revelaram de um lado negligência, e de outro, a falta de um eficiente serviço de inteligência.

A reação dos governos é que os diferencia. Quando o sistema elétrico brasileiro entrou em pânico por causa da seca em 1998, o governo Fernando Henrique imediatamente criou um gabinete de crise e anunciou um conjunto de medidas e providências para enfrentar o problema.

Essa não foi a postura do governo Lula. Parlamentares do governo e da oposição observam que o atual governo não teve energia para enfrentar o problema quando ele apareceu, no segundo semestre de 2006. Desde então, a situação se agravou sem que o Comando da Aeronáutica e o Ministério da Defesa tivessem tomado providências para evitar a greve dos controladores, que resultou numa sucessão de trapalhadas. Como diz um tucano, seria como se o governo Fernando Henrique não tivesse feito um racionamento de energia quando o abastecimento entrou em colapso. Só agora, depois da porta arrombada, o presidente da República deu poderes para a Aeronáutica formular um plano alternativo.

Integrantes do governo e petistas que têm relação com os comandos militares reconhecem que a disputa de poder impediu que as autoridades se antecipassem. A Aeronáutica não confia no discernimento do ministro da Defesa, Waldyr Pires, desde que este, no ano passado, pediu a um brigadeiro que se retirasse de uma reunião com controladores de vôo, a pedido destes. Oficiais relataram, a parlamentares da oposição, que o ministro teria deixado de levar adiante um plano que previa a formação intensiva de controladores.

Independentemente da veracidade do fato e da informação relatados acima, eles revelam que o relacionamento entre o ministro da Defesa e o Comando da Aeronáutica é um campo minado. A dualidade de visões sobre como enfrentar o problema, que resultou na greve dos controladores, persiste. Não é à toa que parlamentares governistas e de oposição dizem que não será surpresa novos sobressaltos no setor aéreo.