Título: Arruda: governo radical para mudar biografia
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 08/04/2007, O País, p. 13

Governador do DF demitiu 30.400 servidores, combateu invasões, implodiu prédios e aboliu o terno e a gravata.

BRASÍLIA. Assim como foi obrigado a fazer uma manobra radical na sua trajetória política há seis anos, quando renunciou ao mandato de senador depois de admitir participação na violação do painel do Senado, o agora governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), mais uma vez surpreendeu. Desta vez, ao promover um impactante programa de reestruturação da administração da capital federal logo após a posse, que fez sua popularidade cair especialmente junto às classes D e E, as que mais contribuíram para sua vitória no primeiro turno. Em compensação, conquistou apoio estratégico nas classes A e B, que resistiam a ele por causa do escândalo do passado.

A inversão reflete o impacto das medidas. Entre elas, a demissão de 30.400 servidores comissionados ou contratados sem concurso e a adoção de uma política rigorosa de controle do uso do solo - que já levou à derrubada de 1.300 casas construídas em terrenos públicos, sendo 500 delas na cidade-satélite de Ceilândia, e algumas em condomínios luxuosos do Lago Sul. Foram implodidos dois esqueletos de prédios: o de um hotel de 13 andares à beira do Lago Paranoá e um shopping no Plano Piloto. O governo planeja implodir mais um, que é do vice de Arruda, Paulo Octávio.

- As invasões de terrenos públicos e o uso indiscriminado do solo são o câncer de Brasília, assim como foi a ocupação das encostas dos morros do Rio há alguns anos. E aqui estamos coibindo não só as invasões feitas por pobres, mas também por ricos - diz Arruda.

Adversário critica "pirotecnia "

A decisão mais difícil foi a de demitir 17.900 servidores comissionados, 11 mil sem concurso que atendiam ao extinto Instituto Candango de Solidariedade e mais 1.500 conveniados da Novacap, empresa de obras do governo. Foram nomeados seis mil novos. Mas Arruda afirma que 70%, pelo menos, seriam servidores de carreira.

- Só as secretarias reduzi de 36 para 16. Por mais que houvesse uma necessidade de enxugamento da máquina, demitir é muito difícil, ainda mais numa economia em que quase não há indústrias e a maioria sobrevive às custas do governo ou da prestação de serviços - diz.

Para adversários como o deputado Geraldo Magela (PT), o governador fez o que tinha de ser feito em relação às demissões. Magela critica, contudo, a "pirotecnia" das ações.

- Há contradições entre o que é divulgado ao público e o que acontece de fato. É marcado pela pirotecnia e o marketing político - diz Magela.

Arruda vem rompendo tradições. Aboliu o terno e a gravata e surpreendeu o secretariado. Não só pela transferência da sede do governo para um quartel em Taguatinga, a 25 quilômetros de Brasília, que permitiu a devolução de 144 imóveis alugados. Mas também pelo fato de os secretários despacharem numa mesma sala, sob sua supervisão. Na tentativa de reduzir uma dívida de R$700 milhões deixada pelo antecessor, o senador Joaquim Roriz (PMDB), está revendo todos os contratos e algumas licitações. O esforço rendeu até agora uma economia de R$300 milhões e despertou a atenção de seu partido, o Democratas (DEM), que está em busca de um nome para a disputa presidencial de 2010.

Um sonho que, pelo menos por enquanto, não é alimentado por Arruda.

- No começo de minha vida pública, subi de elevador e cai lá embaixo. Dessa vez, vou subir de escada - avisa.