Título: Na Bahia, nomeações e viagens na berlinda
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 08/04/2007, O País, p. 15

Adversários de Jaques Wagner criticam loteamento político nas escolas da rede estadual e falta de projeto de governo.

A surpreendente eleição do governador Jaques Wagner e os planos do PT para 2010 transformaram a Bahia em uma vitrine. Nos cem primeiros dias de gestão, não faltaram pedras. Órfãos de uma hegemonia que durou 16 anos na Bahia - a do senador Antonio Carlos Magalhães-, opositores criticam a falta de projeto de governo, as nomeações políticas, o aumento da violência no estado e até um considerado excessivo número de viagens do governador. Jaques Wagner é apontado como possível candidato do PT à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O governo se defende e, em um balanço feito na semana passada, lista 25 medidas, em um resumo das ações nos cem primeiros dias de gestão. Entre elas a revisão de contratos, a orientação para não ocupar 30% dos 12 mil cargos comissionados, a reforma administrativa do estado e uma parceria para recuperar a dívida ativa, de R$8 bilhões. A administração petista conta com o governo federal para espalhar canteiros de obras pelo estado. São esperados R$375 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), para projetos já pré-selecionados pelo governo federal.

- O governo não disse a que veio. Há uma sensação de letargia. Nem a marca dos programas sociais do PT se vê aqui na Bahia. Se ele conta com esse futuro político, está cometendo um erro crasso - disse o deputado federal ACM Neto (DEM-BA).

- Sobre meu futuro, decido eu. O meu projeto agora é governar bem a Bahia e provar que sei fazer isso melhor do que eles (os Democratas). O que estou menos preocupado é com 2010 - reagiu o governador.

O deputado Heraldo Rocha, líder dos Democratas na Assembléia Legislativa da Bahia, reclama que até agora foram votados apenas três vetos do governador:

- Não houve um único projeto de lei. O estado está no piloto automático.

Escolha de diretores por indicação cria polêmica

A assessoria do governo nega e diz que a reforma administrativa, em vigor desde janeiro, foi objeto de apreciação da Assembléia Legislativa.

Uma circular do secretário de Educação, Adeum Hilário Sauer, enviada às escolas, informou a decisão considerada até aqui a mais polêmica da administração Jaques Wagner: a de aceitar indicações políticas para cargos de diretor e vice-diretor. O governador alimenta a polêmica:

- Não há mal algum em compartilhar o governo com as forças políticas que participaram da vitória eleitoral. Mesmo assim, ao contrário da administração passada, estou preparando projeto de lei sobre a eleição direta para as escolas, a partir do próximo ano.

Deputados estaduais ajuizaram ação popular contra loteamento político das escolas. ACM Neto sustenta que, no governo de seu aliado Paulo Souto, que antecedeu Jaques Wagner, os diretores tinham certificação de qualificação, exigência da Lei de Diretrizes e Bases.

A contratação de servidores pelo Regime Especial de Administração (Reda) também provocou polêmica: o governador manteve o método, apesar de criticá-lo quando adotado pelo antecessor. O governador sustenta que a seleção será feita por meio de provas.

- Eles vão fazer seleção viciada, para inglês ver - critica o deputado estadual João Carlos Bacelar (PTN).

Outro alvo das críticas, as viagens atraíram investimentos para o estado, sustenta o governador. Em três meses, foi a Portugal, Espanha e Japão.

- Ele (o governador) está com uma antena parabólica, que não capta mais a programação local. Só a nacional e a internacional - ironiza Bacelar.

Jaques Wagner se diz perseguido como o presidente Lula em seu primeiro mandato:

- Muito me admiro da visão preconceituosa dos deputados com relação às viagens. Essas críticas, verdadeiro besteirol, repetem críticas a Lula no primeiro mandato e revelam visão tacanha do que seja governar - afirmou o governador, defendido, nesse caso, até por um adversário:

- Eu não acho que o excesso de viagens prejudique. Só defendo que eles parem de culpar o passado e comecem a agir - afirma o deputado federal José Carlos Aleluia (DEM-BA).

Como a maioria dos colegas, assim que assumiu, o governador fechou as torneiras dos gastos públicos. Além da exigência dos cortes comissionados, contingenciou R$160 milhões do orçamento de 2007. Apesar da transição sem incidentes, o governo afirma ter recebido um abacaxi do antecessor, que inclui um total de restos a pagar de R$321 milhões e despesas não contabilizadas de R$320 milhões.

Violência e mortandade de peixes no início da gestão

Os altos índices de violência no carnaval e a mortandade de peixes no Recôncavo Baiano também marcaram os cem primeiros dias do governo. A assessoria do governo afirma que não há aumento registrado nas estatísticas atuais. Os números divulgados no carnaval mostraram que os índices foram 23,9% superiores a 2006. Sobre a mortandade, o governo informa que forneceu cesta básica e distribuiu vinte toneladas de peixe para a população ribeirinha.