Título: Os senhores da nova guerra do Rio
Autor: Ramalho, Sérgio
Fonte: O Globo, 08/04/2007, Rio, p. 19

Chefes de milícias dizem que expulsam bandidos, enquanto traficantes denunciam extorsões, em entrevistas ao GLOBO.

O discurso assistencialista é repetido como mantra, mas são as armas que sustentam a autoridade de traficantes e milicianos nas favelas do Rio. Rivais na disputa territorial, os senhores da nova guerra carioca têm em comum o apego ao poder e o desprezo às leis. Por 15 dias, repórteres do GLOBO percorreram favelas e ouviram integrantes dos grupos. Distintos na origem, eles adotam métodos análogos de domínio. Prova disso é que as milícias passaram a organizar bailes, onde proíbem a venda de drogas, mas monopolizam o comércio de bebidas. Na Colômbia, os paramilitares estão um passo à frente: também passaram a se financiar com a venda de drogas.

Nos moldes do tráfico, os milicianos também queimam ou enterram as vítimas, práticas que podem refletir no aumento da subnotificação de crimes, principalmente os assassinatos, repetindo um fenômeno verificado na Colômbia. Lá, as taxas de homicídios por cem mil habitantes dispararam em Medellín, entre 1994 e 96.

Sob a condição de não serem identificados, dois milicianos e dois traficantes aceitaram falar sobre a guerra que travam por território e os métodos para manter o poder. Nas entrevistas, traficantes confirmam a trégua entre as facções para evitar o avanço das milícias, o aluguel de armas e ¿soldados¿ para defender favelas dos ataques e os atentados a policiais, vistos como potenciais milicianos. Por sua vez, os paramilitares se apresentam como única solução para acabar com o tráfico, reclamam dos salários na polícia, mas evitam falar sobre a ilegalidade de suas ações.