Título: Mulheres têm mais dificuldade de comprovar as doenças do trabalho
Autor: Almeida, Cássia e Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 08/04/2007, Economia, p. 30

Caracterização, mesmo em setores mais femininos, é maior entre homens.

RIO e BRASÍLIA. A dificuldade de reconhecimento das doenças ocupacionais é maior entre as mulheres. Essa constatação foi feita pela coordenadora do Laboratório de Saúde do Trabalho da Universidade de Brasília (UnB), a professora Anadergh Barbosa, quando cruzou os números de auxílio-doença com os benefícios pagos por acidentes (em que os trabalhadores eram afastados por acidentes ou doenças ocupacionais) entre homens e mulheres.

Mesmo em setores nos quais há o predomínio feminino, como o de confecções, o reconhecimento pelo INSS dessa vinculação entre doença e trabalho é maior para os homens. Nessa atividade, 75% dos contratados com carteira assinada são mulheres. Mesmo assim, para cada 19,3 auxílios-doenças concedidos para as mulheres, apenas um é considerado pelo INSS como relacionado ao trabalho. Já entre os homens, nessa mesma atividade, a razão entre os dois benefícios cai para 7,7. A professora usou os números de 2004 da Previdência Social.

¿ Numa atividade na qual os homens fazem menos trabalho repetitivo, eles conseguem ter mais reconhecimento do vínculo da doença com o trabalho. Por exemplo, são supervisores e gerentes, enquanto as mulheres são as costureiras, sofrem com problemas de coluna e LER (lesão por esforço repetitivo) ¿ observa Anadergh.

O quadro se repete no ramo de saúde e serviços sociais: são 74% de mulheres nesse setor. No entanto, para cada benefício por acidente concedido, são 15,3 sem o reconhecimento do vínculo com o trabalho. Já entre os homens, essa relação cai para 9,5 vezes.

¿ Os peritos acabam relacionando a doença à dupla jornada feminina. Como se os serviços domésticos fossem os responsáveis pelas doenças como as provocadas por LER ¿ explica a professora.

Setor bancário, vínculo maior entre as mulheres

Outro fator a explicar essa tendência é o volume de comunicações de acidente de trabalho, que alimentam o banco de dados de pagamento de auxílios.

¿ Os homens são as maiores vítimas de acidentes, por isso também o número maior dessa vinculação com o trabalho ¿ diz Anadergh.

Segundo a professora, a mobilização sindical maior ajudou as bancárias. É uma das poucas atividades nas quais o reconhecimento da relação entre trabalho e doença é maior entre as mulheres.

Com 38 anos, a bancária e pedagoga Marilza Barbosa sofre com a LER. Está afastada desde setembro de 2006 e pensa em se aposentar. Com problemas nas duas mãos, nos dois braços e na região cervical, ela conta que não conseguiu amamentar a sua filha, hoje com um ano e meio. A doença chegou após 18 anos de serviço em um banco privado:

¿ Não vivo uma vida normal, tenho médico de segunda a sexta-feira, entre sessões de fisioterapia, acupuntura e terapia. Sinto-me limitada e tenho medo do futuro.