Título: Nos EUA, categoria está em clima de confronto
Autor: D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 08/04/2007, Economia, p. 31

Tráfego aéreo cresceu 25%, enquanto o total de profissionais foi reduzido em 1.180.

WASHINGTON. Os controladores de vôo dos Estados Unidos também estão inquietos. O seu sindicato está em meio a uma tensa disputa trabalhista com a Federal Aviation Association (FAA), agência federal que os contrata. Suas principais queixas: o tráfego aéreo aumentou 25% no país nos últimos três anos, enquanto o número de controladores teve redução de 1.180 profissionais (de 15.386 para 14.206).

O número de novas contratações tem sido abaixo do índice de aposentadorias. Em vez de investir mais, a FAA aumentou a carga de trabalho ¿ de cinco para seis dias por semana, oito horas por dia. E, para complicar, o Congresso já anunciou que planeja não aumentar a verba para o setor este ano ¿ impondo não apenas um congelamento das contratações como, também, corte de gastos com equipamentos (inclusive computadores utilizados para o controle do tráfego aéreo).

A FAA também acabou com o descanso (breve recreio) que um controlador podia ter a cada duas horas de trabalho.

¿ Sem dúvida esse elástico já foi esticado ao máximo, e agora já não é mais uma questão de se ele vai romper e sim de quando isso acontecerá ¿ disse Hamid Ghafarri, diretor da Associação Nacional de Controladores de Tráfego Aéreo (Natca, na sigla em inglês).

Os profissionais dizem que a situação está começando a ficar parecida com a de 1981, quando a classe ¿ embora proibida de entrar em greve ¿ realizou uma paralisação e o então presidente Ronald Reagan, após um ultimato para que voltassem ao trabalho em 48 horas, demitiu 11.400 controladores (75% do quadro da FAA na época).

O setor tinha sido desmilitarizado nos EUA em 1940. Mas Reagan se viu obrigado a convocar especialistas da Força Aérea para cuidar dos trabalhos até que a FAA fosse, aos poucos, treinando novos profissionais ¿ uma vez que o decreto presidencial também proibiu que os grevistas demitidos fossem readmitidos. Eles foram banidos, até que em 1993 o presidente Bill Clinton emitiu um perdão ¿ mas apenas cerca de 200 voltaram à ativa.

Em Dallas, Detroit, Nova York, todo o Norte da Califórnia, e Washington, os aeroportos funcionam com 69% a 76% do número de controladores necessários. No aeroporto internacional de Atlanta, o mais movimentado do país, 34 controladores fazem o trabalho dos 55 que, segundo a própria FAA, seriam o apropriado. Em vários aeroportos, a FAA também está lançando mão de aprendizes para dar conta do recado.