Título: Eles precisam de educação
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 09/04/2007, O País, p. 3

Brasil tem 2,4 milhões de jovens analfabetos entre 10 e 29 anos, segundo a Pnad.

Auniversalização do ensino fundamental não fechou a torneira do analfabetismo. Dos 15,5 milhões de brasileiros acima de 10 anos que não sabem ler nem escrever, 2,4 milhões - 15% - têm menos de 30 anos. Embora o problema atinja todas as regiões do país, 65% dos jovens analfabetos vivem no Nordeste.

Considerados apenas os jovens entre 15 e 29 anos, são 1,8 milhão de iletrados. São pessoas que chegam ao mercado de trabalho incapazes de ler a placa do ônibus ou anotar um número de telefone. Conseguir emprego fica difícil:

- É quase impossível. Não conseguem emprego estável, recebem baixos salários - resume o presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, Simon Schwartzman, que presidiu o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no governo Fernando Henrique.

Mesmo na escola, crianças iletradas

Os dados dizem respeito ao chamado analfabetismo absoluto. Foram estimados em 2005, pelo IBGE, a partir da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

A maioria da população iletrada - 8,4 milhões - tem mais de 50 anos. São pessoas que estavam em idade escolar nas décadas de 1950 e 1960, quando estudar era privilégio. Naquela época, nem metade das crianças e jovens tinha acesso ao sistema de ensino. Hoje 97,3% dos brasileiros de 7 a 14 anos freqüentam a escola.

- É uma situação grave. Num país populoso e de extensão territorial como o Brasil, um pequeno percentual que fique fora da escola já representa muita gente. Tem que haver uma política específica para esse público - diz a coordenadora de Programas da organização não-governamental Ação Educativa, Vera Masagão Ribeiro.

A Pnad 2005 mostra que o analfabetismo atinge 578 mil crianças de 10 a 14 anos. São crianças que podem ter freqüentado a escola, sem aprender a ler e escrever, ou mesmo nunca ter estudado. O IBGE estima que 2,7% dos 27,4 milhões de brasileiros com idade entre 7 e 14 anos não estavam matriculados. Ou seja, o país tinha, em 2005, 741 mil crianças e jovens fora da escola nessa faixa etária.

A secretária de Educação do Distrito Federal, Maria Helena Guimarães de Castro, que foi ministra interina no governo Fernando Henrique, afirma que o problema é agravado pela baixa qualidade do ensino. O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), prova aplicada a cada dois anos, mostra que mais da metade dos alunos de 4ª série tem dificuldade de compreender o que lê.

- Está demonstrada, pelo Saeb, a enorme dificuldade de alfabetização no Brasil. É um problema da escola - diz Maria Helena, elogiando a proposta do governo Lula de aplicar a Provinha Brasil, teste para verificar a alfabetização das crianças de 6 a 8 anos.

A taxa de analfabetismo entre a população com mais de 10 anos é de 10,2%. O índice sobe para 10,9%, se considerada apenas a parcela acima de 15 anos - 14,9 milhões de pessoas. No Nordeste, a proporção, nesse caso, chega a 21,9%, a mais alta do país, contra 6,5% no Sudeste e 5,9% no Sul, a mais baixa.

O IBGE estima também o índice de analfabetismo funcional, que vale para quem consegue ler e escrever palavras ou frases, mas é incapaz de compreender um bilhete ou fazer cálculos simples de soma. A taxa brasileira de analfabetismo funcional é de 23,5%, alcançando 45,8% no meio rural, segundo a Pnad 2005.

Brasil Alfabetizado será reformulado

Diante da persistência dos altos índices de analfabetismo no país, o Ministério da Educação decidiu reformular o Brasil Alfabetizado, programa lançado em 2003 e que teve pouco efeito na redução do problema. O ministro Fernando Haddad já declarou que a pequena queda na taxa de analfabetismo - de 11,5%, em 2003, para 10,9%, em 2005 - não é resultado do programa, que já consumiu mais de R$700 milhões.

Haddad lançará nos próximos dias o novo formato do Brasil Alfabetizado. A principal inovação é que professores da rede pública serão contratados para dar aulas, no lugar de alfabetizadores leigos. Com isso, o governo espera melhorar a eficácia do ensino não só de jovens e adultos, mas das próprias crianças, uma vez que os docentes receberão treinamento específico para ensinar a ler e escrever.