Título: Quatro ministros vão lotear cargos entre onze partidos da base aliada
Autor: Damé, Luiza e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 09/04/2007, O País, p. 4

Dilma, Paulo Bernardo, Mares Guia e Dulci vão cuidar do segundo escalão.

BRASÍLIA. O loteamento de cargos de segundo escalão entre os partidos aliados começa a ser decidido pelo quarteto ministerial formado por Dilma Rousseff (Casa Civil), Walfrido Mares Guia (Relações Institucionais), Paulo Bernardo (Planejamento) e Luiz Dulci (Secretaria Geral). Em reuniões entre hoje e amanhã, eles vão fechar a fórmula de "despetização" da Esplanada dos Ministérios e das estatais, de forma a acomodar os 11 partidos aliados. A meta é concluir o desenho do mapa do segundo escalão até quarta-feira, quando os partidos saberão quais indicações foram aceitas.

A disputa pelos cargos tem colocado aliados em campos opostos. Desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pôs um ponto final na tese da "porteira fechada" - quando o partido do ministro ou presidente de estatal indica os ocupantes dos cargos da pasta ou empresa - e orientou os titulares a acomodar pessoas de outros partidos nos ministérios, os aliados estão avançando em cargos alheios. A maior cobiça é sobre a fatia do PT, que detém 80% dos cargos de segundo escalão.

- É importante costurar o consenso para não haver acirramento entre os partidos. O grande problema é que o PT tem quantidade e qualidade - disse o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).

Em depoimento na Câmara, Paulo Bernardo disse que há sete mil cargos de confiança - sem contar estatais - de um total de 22 mil cargos na administração federal direta. Lula, para tentar moralizar o processo de indicação, decretou que 70% dos cargos têm de ser destinados a servidores concursados.

"Filé mignon" de estatais é do PT

O PMDB enviou ao Planalto a lista com indicações da bancada da Câmara. O partido está de olho em diretorias de Furnas, BR Distribuidora, Banco do Brasil e Petrobras. Também quer manter postos estratégicos nos cinco ministérios que ocupa - Saúde, Minas e Energia, Agricultura, Comunicações e Integração Nacional - como a presidência da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a direção do Departamento de Obras Contra a Seca (Dnocs), o comando da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), da Sudam, da Sudene e da Secretaria Especial do Centro-Oeste.

Segundo o líder, a bancada do PMDB na Câmara tem de "15 a 18 posições" pleiteadas:

- O PMDB não tem quase nada. A bancada do Senado tem muito pouco. Agora é a hora da verdade para que os partidos da base se entendam.

A intenção é que, nos próximos dois dias, os ministros façam o cruzamento dos atuais ocupantes do segundo escalão com os indicados dos partidos.

Um dos alvos dos aliados é o segundo escalão do Ministério das Cidades, que nos dois primeiros anos ficou sob o comando do PT. Agora, o PP, partido do ministro Márcio Fortes, quer controlar também a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e as secretarias de Habitação, Saneamento e Transportes. O PP fez dez indicações para cargos de outros ministérios, como diretorias do IRB, de Furnas, do TBG (Gasoduto Bolívia-Brasil), da Caixa Econômica e do Banco do Brasil.

O "filé mignon" de três das maiores estatais, porém, continuará com o PT. Os presidentes do BB e da Caixa - Antonio Francisco Lima Neto e Maria Fernanda Ramos Coelho, respectivamente - foram confirmados nos cargos. A presidência da Petrobras também fica com o PT, com a manutenção de José Sérgio Gabrielli no comando.