Título: Cabral quer tropas na rua
Autor: Goulart, Gustavo
Fonte: O Globo, 10/04/2007, Rio, p. 9

Após morte de segurança de filhos, governador cobra de Lula ajuda das Forças Armadas.

Indignado e demonstrando irritação com a 39ª morte de policial durante seu governo - desta vez, do soldado da Polícia Militar Guaraci de Oliveira Costa, de 28 anos, segurança de seus filhos - o governador Sérgio Cabral cobrou das Forças Armadas uma participação efetiva no combate à violência na cidade. Durante o velório do PM, que morreu no Hospital Salgado Filho após ser atingido por seis tiros, ao reagir a um assalto no Engenho de Dentro, no domingo, Cabral disse que quer o Exército, a Marinha e a Aeronáutica ajudando no policiamento ostensivo nas linhas Vermelha, Amarela e na Avenida Brasil. Ele pedirá amanhã ao presidente, que vem ao Rio, a presença das Forças Armadas nas ruas e o aumento do efetivo da Força Nacional de Segurança.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem à noite, em São Paulo, que as Forças Armadas podem intervir no Rio desde que o governador faça o pedido formalmente.

- Se o governador Sérgio Cabral pedir, com o maior carinho vamos trabalhar para atendê-lo. Tudo o que a gente puder fazer para ajudar, vamos fazer - disse Lula, sugerindo que todas as autoridades precisam trabalhar em conjunto. - Essa criança é de todos nós.

O governador reiterou que os militares devem colaborar com o estado para enfrentar a violência.

- Nossas Forças Armadas não estão desempenhando um papel mais efetivo na ajuda às nossas Polícias Militares. E não só do Rio, mas em todo o Brasil. Temos aqui, por exemplo, 6 mil fuzileiros navais muito bem treinados, equipados, que poderiam estar colaborando com o policiamento. Isso é uma briga feia contra a bandidagem - disse Cabral, surpreendendo o secretário de Segurança, José Beltrame, que também esteve no velório e disse, depois, que "nunca se fechou essa hipótese de uma maneira definitiva".

Cabral não entende recusa de ministro

O governador disse que não entende a recusa do ministro Waldir Pires ao seu pedido.

- Não quero as Forças Armadas trabalhando apenas no PAN - afirmou Cabral. - Se temos uma Polícia do Exército forte, fuzileiros navais preparados, por que esse contingente não está ajudando? A Força Nacional de Segurança ainda tem que se deslocar de outros estados, mas o contingente das três forças está no Rio.

Sérgio Cabral disse que vai reforçar o contingente das polícias civil e militar. E desabafou:

- Não vou assistir de braços cruzados. Não vou passar quatro anos vindo a velório de policiais e de cidadãos vítimas da violência. Esse é o segundo velório a que venho no meu governo. O primeiro foi de dois policiais que morreram em combate.

O governador defendeu o uso de armas pela Guarda Municipal, para ajudar no policiamento ostensivo. Em visita a Cabo Frio, onde esteve antes de ir ao velório, Cabral se mostrou indignado com a falta de policiamento no Engenho de Dentro, onde Guaraci foi morto.

Já o ministro da Justiça, Tarso Genro, não vê com bons olhos a intervenção das Forças Armadas na segurança pública do Rio. Ele argumenta que os militares não têm qualificação para combater crimes comuns.

- As Forças Armadas são treinadas para outro tipo de ação. São homens que fazem intervenção numa situação de guerra. Não há adequação em seu treinamento para funções de policiamento - disse Tarso, após participar da solenidade de posse dos novos secretários do ministério, entre eles o novo Secretário Nacional de Justiça, o ex-deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ).

Ex-procurador de Justiça no Rio, Biscaia também entende que as Forças Armadas não são a opção mais apropriada para combater a criminalidade comum no estado.

- A segurança pública no Rio é gravíssima e não se resolve com iniciativas isoladas como essa. Depois que os militares retornam aos quartéis, os índices de criminalidade voltam a aumentar - disse.