Título: Risco-Brasil atinge mínimo, bolsa bate recorde e dólar cai a R$2,025
Autor: Santos, Ana Cecília e D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 10/04/2007, Economia, p. 16

País deve chegar mais rápido ao grau de investimento, segundo analistas.

RIO, SÃO PAULO e NOVA YORK. O fluxo de investimentos externos, as especulações sobre fusões entre empresas e os dados positivos da economia dos EUA resultaram em um dia de recordes no mercado financeiro brasileiro ontem. O recuo de 4,87% do risco-Brasil, termômetro de confiança dos investidores estrangeiros no país, para 156 pontos centesimais (novo mínimo histórico) fez aumentar as apostas do mercado na elevação do Brasil ao grau de investimento (investment grade).

A melhora na percepção da economia brasileira atraiu a entrada de capital externo, o que também fez o dólar recuar. Além disso, o bom humor dos investidores levou a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) a atingir novo recorde de pontos (46.854).

Moeda americana atinge menor cotação desde 2001

A maioria dos analistas aposta que o país deverá subir, ainda este ano, um dos dois degraus necessários para receber o aval das agências de classificação de risco.

- Com a revisão do PIB, os bancos estrangeiros lá fora começaram a dizer que o Brasil está se aproximando mais rapidamente do investment grade. O upgrade, ainda este ano, agora é consenso e acredito que, se o cenário não mudar, o Brasil adiantou dois ou três anos a obtenção do grau de investimento - afirma Solange Sour, economista-chefe da Mellon Global Investments Brasil.

A queda do risco-país eleva o apetite dos investidores para aplicar no Brasil. Esse aumento de fluxo de capital é o que provoca a queda da cotação do dólar. Alguns analistas já apostam que a moeda americana possa chegar a R$1,80. Ontem a moeda encerrou o dia em queda de 0,39%, cotada a R$2,025 - seu menor valor desde 7 de março de 2001 (quando foi negociada a R$2,043).

- Os bancos têm cerca de R$15 bilhões em apostas na queda do dólar na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). É o Banco Central sozinho contra o mercado. Por isso, não vejo como segurar a queda da moeda americana. Se o BC não atuasse todos os dias como vem fazendo, a moeda já poderia ter chegado a R$1,50 - diz João Medeiros, diretor de câmbio da corretora Pioneer.

Em discurso ontem à noite durante a posse do novo presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Fabio Barbosa, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, admitiu que a forte valorização do real frente ao dólar é preocupa, mas esquivou-se de fazer mais comentários.

- A política de câmbio visa a conseguir o melhor funcionamento possível do próprio mercado de câmbio e dar condições às empresas se expandirem. Existe preocupação nessa área, mas não cabe ao presidente do BC opinar sobre isso - discursou ele.

A Bovespa subiu ontem 0,45%, com novo recorde, superando pela primeira vez os 46.646 pontos registrados na última quinta-feira, e volume negociado de R$3,1 bilhão. O resultado foi impulsionado por dados positivos sobre o mercado de trabalho americano, que amenizaram o temor de uma desaceleração brusca na maior economia do mundo.

As boas notícias sobre os Estados Unidos já eram conhecidas na sexta-feira, mas só ontem, após o feriado, os investidores puderam mostrar sua reação positiva. O governo dos EUA informou o acréscimo de 180 mil vagas fora do setor agrícola do país em março. O número ficou acima da expectativa dos analistas, sinalizando uma economia mais acelerada do que o mercado previa. A taxa de desemprego também contrariou as projeções, ao recuar para 4,4%, quando se aguardava a manutenção dos 4,5% registrados em fevereiro.

Cotação do petróleo cai 4,3% em Nova York

Segundo analistas, a alta da Bovespa só não foi maior ontem porque os papéis da Petrobras (PN) - que representam quase 15% do índice - foram influenciados pela forte queda no preço do petróleo. O papel encerrou ontem com desvalorização de 0,30%.

O mercado de petróleo teve forte recuo de preços em Nova York. Segundo operadores, a liberação dos marinheiros britânicos capturados por militares iranianos, na semana passada, continuou afetando as cotações. Com o alívio da tensão política, os investidores embolsaram lucros, o que sugere uma expectativa de queda das cotações da commodity. Em Londres, a preocupação com os estoques de petróleo nos EUA reduziram o ritmo da queda. Na Bolsa Mercantil de Nova York, o preço do barril do tipo leve americano caiu 4,3%, para US$61,51. Na Bolsa Intercontinental de Futuros, em Londres, a cotação do petróleo do tipo Brent caiu 2,4%, para US$66,59 o barril.

Com agências internacionais