Título: Lula de teflon
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 11/04/2007, O Globo, p. 2

Os indicadores políticos apresentados pela pesquisa CNT-Sensus informam que os elementos centrais da vitória eleitoral do presidente Lula no ano passado continuam intactos: governo bem avaliado e presidente muito popular. O apagão aéreo, para frustração da oposição, não produziu o desgaste esperado, já que apenas um quarto dos entrevistados responsabilizou o governo federal. No conjunto, a pesquisa é favorável ao governo, mas a contradição de alguns subitens exige leitura atenta.

São expressivos os 49,5% de avaliação positiva do governo, enquanto a avaliação negativa declina. São índices próximos aos do início do primeiro mandato e superiores aos do auge da crise de 2005. O presidente, com 63,7% de aprovação, continua pairando acima do governo, ancorado, certamente, no carisma e na força de sua comunicação pessoal. Ricardo Guedes, do Sensus, atribuiu o resultado ao bom estado da economia, ao aumento do emprego e da distribuição de renda.

A pesquisa foi feita após o episódio mais grave do chamado apagão aéreo, sob críticas agudas à leniência com que o governo o tratou e ao som da artilharia da oposição para instalar uma CPI sobre o assunto. Mas se apenas 25,8% culpam diretamente o governo federal, o desgaste foi menor que o esperado, até pelos governistas. Esse resultado enfraquece a comparação com o apagão energético de Fernando Henrique, que afetou número incomparavelmente maior de pessoas e teve impacto direto sobre toda a economia. Mas aqui entram as contradições. O apagão aéreo chegou ao conhecimento de 82% dos entrevistados. Além dos 25,8% que culparam o governo federal, outros 15,1% culparam os controladores; 9,9%, a Aeronáutica; 9,3%, a Infraero; e 10,4%, as companhias aéreas. Ora, diz o presidente do Democratas, deputado Rodrigo Maia: os controladores, a Aeronáutica e a Infraero também integram o governo federal. Logo, o desgaste é bem maior.

Mas contradição maior, destaca ele, está nos quesitos relacionados à "satisfação do cidadão". Pioraram, segundo a pesquisa: a saúde, para 46,1%; o emprego, para 35,5%; a segurança pública, para 60,5%. A educação melhorou para uma pequena maioria de 36,3%. A renda aumentou para 20,3% e ficou igual para 49,7%. Como explicar que tão aguda percepção de piora nos serviços essenciais conviva com a elevada aprovação do governo e do presidente? Pode-se dizer que, no início do governo, as expectativas são sempre altas. Para 54,8%, o segundo mandato de Lula será melhor que o primeiro. Mas pode-se dizer também, como fazia ontem um admirado ministro Geddel Vieira Lima, que persistem os efeitos dos programas sociais, do choque de crédito, do aumento do consumo das famílias mais pobres. Os programas sociais, por sinal, são aprovados por mais de 50%.

A combinação da boa avaliação com o bom estado da economia e o apoio de uma forte coalizão partidária, se mantida até 2010, e reforçada pelo êxito do PAC, pode dar a Lula a desejada condição de grande eleitor do sucessor. Nessas condições, a oposição continua sendo desafiada a criar uma perspectiva de poder, hoje inexistente.

Salta à vista, também, nesta pesquisa, que Lula continua revestido pelo antiaderente que nunca deixou grudarem nele os delitos do PT ou as falhas de seu governo.