Título: Oposição ameaça criar CPI do Apagão no Senado
Autor: Vasconcelos, Adriana e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 11/04/2007, O País, p. 5

Líderes do DEM e do PSDB não querem esperar decisão do STF e devem começar a recolher assinaturas hoje.

BRASÍLIA. A demora do Supremo Tribunal Federal (STF) para analisar o mandado de segurança da oposição pedindo a criação da CPI do Apagão na Câmara, onde o governo tem maioria, levou ontem as cúpulas do PSDB e do Democratas a cogitar a criação de uma outra CPI, no Senado, para investigar o assunto. Os líderes dos dois partidos, Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Agripino Maia (DEM-RN), devem consultar hoje suas bancadas.

Se a maioria concordar, eles começam ainda hoje a coletar as 27 assinaturas necessárias para a apresentação do requerimento de instalação da nova comissão.

Os Democratas pensaram em propor aos tucanos um esforço para instalar uma CPI mista, driblando a demora do STF para julgar o recurso. Mas o PSDB concluiu que a iniciativa pode soar como afronta ao STF, que deve decidir até o fim do mês se a Câmara terá de instalar a CPI. Os tucanos concordaram com os argumentos de que a investigação sobre a crise aérea é fundamental e que, no Senado, as chances do governo controlar a CPI são menores.

- Na Câmara, o governo tem maioria, já definiu até o presidente e o relator, caso o Supremo dê ganho de causa à oposição - disse o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati.

Parte do PSDB teme atrito com as Forças Armadas

Confiante de que sua bancada deverá concordar com a criação de uma CPI no Senado, Agripino fazia ontem planos de ampliar o objeto da investigação:

- Temos de investigar esse duopólio das empresas aéreas, a qualidade de seus serviços e, claro, a Infraero.

Segundo ele, não seria a primeira vez que Câmara e Senado fariam investigações paralelas sobre o mesmo assunto, como as CPIs da Nike e do Futebol que investigaram os contratos da CBF com patrocinadores da seleção brasileira.

Virgílio disse que dois fatores teriam contribuído para os tucanos mudarem sua posição inicial: o sussurro de que uma CPI poderia provocar uma crise com as Forças Armadas, caso seja comprovada a participação de algum militar em irregularidades, e as insinuações de governistas de que a investigação poderia levantar contratos suspeitos da Infraero assinados no governo Fernando Henrique:

- Chantagem, não aceitamos. Isso realmente nos irritou e agora também temos pressa em iniciar uma investigação.

A proposta de uma investigação dupla no Congresso não é assunto pacífico no PSDB. Muitos tucanos estão preocupados com um possível desgaste da oposição, que não conseguiu arranhar como queria a imagem do governo Lula com as CPIs dos Correios e dos Bingos.

Os líderes da oposição receberam ontem do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, a garantia de que, até terça-feira, ele enviará ao ministro Celso de Mello, relator do caso no STF, seu parecer sobre a instalação da CPI.

O procurador disse achar difícil que o plenário do STF julgue a matéria na próxima semana, já que seu parecer será remetido a Celso de Mello, que só então poderá pedir que o processo seja incluído na pauta do plenário da Corte.

Antonio Fernando criticou a greve dos controladores e explicou que uma questão parecida já foi decidida pelo STF, numa referência à CPI dos Bingos. Na semana passada, ele sinalizara que sua posição seria favorável à CPI.