Título: Temporão nega defesa do aborto e pede debate
Autor: Gripp. Alan
Fonte: O Globo, 11/04/2007, O País, p. 8
Apesar de declarações favoráveis à interrupção da gravidez, ministro da Saúde afirma que só propôs discussão à sociedade.
BRASÍLIA. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse ontem que nunca defendeu a legalização do aborto, e sim que o tema seja debatido pelo Congresso e pela sociedade. Apesar de repetir declarações claramente favoráveis à interrupção da gravidez, sempre com o argumento de que as cirurgias clandestinas são um problema de saúde pública, ele demonstrou que não está disposto a carregar essa bandeira. Durante audiência pública na Câmara, chegou a dizer que considera o aborto, por si só, um disparate.
- É um disparate alguém defender o aborto, mas eu disse que não se pode fechar os olhos para mulheres que, por "n" questões, realizam o abortamento em situação insegura. É uma questão de saúde pública, e quero que a sociedade discuta, apenas isso - disse.
Segundo assessores, Temporão ficou preocupado com a repercussão do ato público contra o aborto realizado segunda-feira, durante sua visita a Fortaleza. O ministro quer chamar a atenção para o perigo a que se expõem as mulheres que recorrem a clínicas clandestinas, mas não quer ficar estigmatizado pelo tema. Ontem, Temporão disse aos deputados que "a bola agora está com o Congresso":
- O Congresso é que vai decidir se vai ter mudança na lei ou se haverá um plebiscito.
No fim da audiência, o ministro disse que a polêmica foi criada pela imprensa ("coisa de repórter"). Mas não deixou de expor seus argumentos favoráveis à legalização do aborto:
- Ano passado, tivemos dois mil abortos que se encaixavam exatamente no que a lei determina. Mas olha que interessante e preocupante: tivemos 220 mil curetagens pós-aborto e não temos informações de que percentual dessas curetagens foram por aborto espontâneo ou decorrente de um aborto em situação insegura.
Na audiência, o ministro tratou de outro tema polêmico: as restrições às propagandas de bebidas alcoólicas. Propôs a criação de regras para limitar o horário de exibição e o conteúdo dos filmes publicitários:
- A maneira como mulheres e crianças são tratadas nessas propagandas é insustentável. Terá que mudar. Mas ainda não tenho uma proposta.
Uma alternativa é analisar os projetos de lei de restrição já apresentados no Congresso.