Título: Soluções para o setor atrasam
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 11/04/2007, Economia, p. 19

Somente a Infraero apresentou propostas exigidas por Lula

BRASÍLIA. Ao repassar ao Comando da Aeronáutica - subordinado ao Ministério da Defesa de Waldir Pires - a condução das negociações e do processo de desmilitarização do tráfego aéreo, o presidente Lula simplesmente paralisou a formatação do pacote de "diagnóstico e solução" que ele mesmo ordenara, há 15 dias, que fosse entregue pelos principais órgãos do setor. Na ocasião, Lula exigiu das autoridades responsáveis - Aeronáutica, Infraero e Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) - dia e hora para anunciar o fim dos problemas dos aeroportos. Só a Infraero fez sua parte.

O estudo completo com as deficiências de cada área, além de objetivos e estratégias a curto, médio e longo prazos, deveria ficar pronto esta semana e ser entregue por Pires a Lula até sexta-feira. Mas a missão "foi abortada", revelou uma fonte do governo. Até o agravamento da crise, quando o governo concentrou na Aeronáutica a mudança para o setor, Pires havia se reunido com representantes dos órgãos. Mas apenas a Infraero entregou relatório à Defesa - dizendo que precisará investir mais de R$3 bilhões até 2011, para recuperar o sistema de segurança de vôo em 67 aeroportos.

Uma fonte da Casa Civil confirma que está tudo parado (medidas para desmilitarizar o setor, como criar carreira civil e gratificação da categoria) à espera "de ordens superiores". Na Defesa, diz-se que a pasta não vai tomar qualquer medida isolada.

- Se é da FAB, está com a FAB - diz uma fonte, lembrando que o motim e o agrado de Lula à Força Aérea retardou a montagem da estrutura para a pasta, que funciona de forma capenga.

Agência quer prioridade para vôos internacionais

Integrantes do ministério alertam que a desarticulação não pode permanecer por muito tempo, pois o sistema continua sem controladores substitutos. Se os sargentos pararem, o plano B da Aeronáutica só garante o fluxo de 30% do tráfego. E a pasta do Planejamento não pretende mais negociar com líderes, após Lula ter desautorizado o ministro Paulo Bernardo. O Planejamento dará só suporte técnico à desmilitarização, mas a modelagem do sistema será feita pela FAB. Mas na Aeronáutica não se cogita abrir espaço para negociar nos moldes concebidos por Planejamento e Defesa.

Pires foi vaiado ontem, durante a participação de Lula na abertura da Marcha Nacional de Prefeitos, em Brasília. Na platéia, estavam mais de três mil prefeitos. Segundo o "Jornal Nacional", da TV Globo, um representante da Agência Internacional de Aviação Comercial (Iata), Manoel Borgola, está no Brasil para reuniões com militares. A Iata quer que vôos internacionais tenham prioridade em caso de crise. (Geralda Doca)