Título: Irã diz que multiplicará produção atômica
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Fonte: O Globo, 11/04/2007, O Mundo, p. 27

Intenção é ter 50 mil centrífugas de enriquecimento de urânio, e não só as 3 mil anunciadas. Especialistas duvidam

TEERÃ. O governo iraniano anunciou ontem que planeja multiplicar a produção de urânio enriquecido. Um dia após o presidente Mahmoud Ahmadinejad dizer que o país já tem três mil centrífugas na usina de Natanz, o chefe do órgão responsável pela pesquisa nuclear do Irã divulgou que Teerã está pronta para ter 50 mil centrífugas. Os anúncios, porém, estão sendo encarados com um misto de suspeita e preocupação pela comunidade internacional.

- O programa de enriquecimento de urânio do Irã em Natanz não tem como objetivo instalar apenas três mil centrífugas, mas 50 mil - disse ontem Gholam Reza Aghazadeh, diretor do programa atômico iraniano.

Especialistas afirmam que com três mil centrífugas o país poderia construir uma ogiva atômica por ano.

O ministro do Exterior do Irã, Manouchehr Mottaki, reiterou ontem que o país não suspenderá o seu programa nuclear, como exigiu o Conselho de Segurança da ONU no dia 24 de março.

- A suspensão não é aceitável nem como condição preliminar das negociações nem como seu resultado - disse Mottaki. - Deve-se aceitar a nova realidade. Já ultrapassamos esta fase.

Para averiguar os recentes anúncios do governo iraniano, dois inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica da ONU estão no país e pretendem visitar a usina de Natanz. Eles ficarão no Irã por uma semana e só devem relatar o que viram depois de deixarem o país. Nas últimas visitas, no entanto, o governo iraniano limitou os locais que puderam ser visitados por inspetores internacionais.

Rússia diz não saber de qualquer avanço iraniano

Especialistas, porém, ressaltam que não se deve acreditar em tudo o que Teerã vem afirmando sobre seu programa nuclear nos últimos meses. Ontem, até mesmo o ministro do Exterior da Rússia, Serguei Lavrov, disse não acreditar que o Irã esteja tão desenvolvido na área quanto vem afirmando. A Rússia é um dos principais aliados do Irã e seu único fornecedor de combustível nuclear, além de participar da construção de instalações atômicas no país.

- No momento não temos dados que confirmem que o Irã tenha iniciado o enriquecimento de urânio em novas cascatas de centrífugas interconectadas - disse Lavrov. - Desde já encaramos com seriedade tudo o que ocorre no programa nuclear iraniano. Mas queremos nos apoiar em fatos, e não em gestos políticos emocionados.

O porta-voz da Chancelaria russa, Mikhail Khaminin, anunciou que Moscou não tem "informação sobre avanços tecnológicos no programa nuclear iraniano".

A falta de credibilidade do Irã também foi ressaltada por especialistas.

- É um país que mente habitualmente sobre desenvolvimento e produção de armas convencionais. Realiza manobras militares com 20 mil ou 30 mil homens e os transforma em 100 mil ou 150 mil - afirmou Anthony Cordesman, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington.

Diplomatas também desconfiam das últimas declarações iranianas. Segundo vários deles, o país não teria mais do que 500 centrífugas instaladas.

Ontem os EUA exortaram outro país cujo programa nuclear preocupa o Ocidente a cumprir acordos internacionais. O governo de Macau, na China, anunciou que desbloqueou US$25 milhões de fundos da Coréia do Norte que estavam presos no Banco Delta Asia, como fora solicitado por Pyongyang.