Título: Fretilin está no páreo, afirma Alkatiri
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 11/04/2007, O Mundo, p. 26

DíLI. Mari Alkatiri, secretário-geral da Fretilin (Frente Revolucionária do Timor Leste Independente) e um dos principais acusados pela crise instaurada ano passado no país, é um homem de falas breves. Apesar dos rumos da apuração nas províncias mostrarem um quadro desfavorável para o seu histórico partido ¿ ao menos não tão brilhante quando nas primeiras eleições para o Parlamento ¿ Alkatiri diz apenas que a Fretilin sairá vencedora das eleições.

Segundo ele, não será possível governar sem o apoio do partido, que tem a maioria no Parlamento atual, com mandato até setembro deste ano, quando ocorrerão novas eleições. Mesmo assim, Mari Alkatiri confia na sua base partidária, que vem sendo acusada por todos os outros candidatos à Presidência do Timor de usar da violência como forma de intimidação.

¿ Não somos partidários da violência ¿ rebate ele. ¿ Isto é a forma que o governo de Xanana Gusmão e José Ramos-Horta encontra de nos desestabilizar.

Segundo o político, que até o ano passado era o primeiro-ministro do Timor Leste e caiu por conta da crise, a sede de poder da dupla Xanana Gusmão-Ramos-Horta, com a ajuda da comunidade internacional, é a maior responsável pelos problemas que o Timor enfrenta hoje.

¿ Eles queriam apenas uma desculpa para tentar tirar do governo o nosso partido. Usaram a questão dos peticionários, um problema que nunca existiu, para desestabilizar o próprio governo do qual fazem parte.

Ano passado, liderados pelo major Alfredo Reinado, um grupo de cerca de 600 membros da polícia de Timor se rebelou contra seus superiores, acusando-os de realizar promoções com critérios étnicos e não meritórios. O ministério da Defesa e o então primeiro-ministro, Mari Alkatiri, foram criticados por facilitar a subida, na hierarquia da força, de militares lorosae (da parte leste da ilha), com a desculpa de que esta corrente étnica foi a que verdadeiramente lutou contra a invasão indonésia, enquanto os loromono, da parte oeste, teriam colaborado com os invasores.

Reinado juntou seu grupo e tentou tomar o palácio do governo, enfrentando as Forças de Defesa da ilha, o equivalente às Forças Armadas. O conflito se espalhou para as ruas de Díli, resultando na morte de cerca de 40 pessoas e na fuga de 155 mil para campos de refugiados dentro do país. Alkatiri foi obrigado a renunciar.

¿ Ninguém diz que a Comissão de Notáveis criada para investigar o episódio dos peticionários não encontrou evidências de discriminação. Ou seja, houve a manipulação de um major que queria ser uma celebridade ¿ diz ele. ¿ E ninguém fala nada sobre o absurdo que é o presidente da República, Xanana Gusmão, fazer campanha para Ramos-Horta, quando deveria ser uma figura neutra.

Mari Alkatiri diz que, qualquer que seja o resultado das urnas, seu partido ¿ a Fretilin ¿ continuará na posição de uma das maiores forças políticas do Timor Leste. Refutou as acusações de que promoverá violência, caso o candidato Francisco Lu-Olo não vá para o segundo turno. E deu seu recado:

¿ Estão todos convencidos de que vão manchar a imagem ou reduzir a influência da Fretilin no país. Não conseguirão. (G.S.)