Título: Brasil carece de estudos específicos sobre o aquecimento regional
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Fonte: O Globo, 11/04/2007, Ciência, p. 28

Pesquisadores dizem que faltam também séries históricas que ajudariam a avaliar os impactos

SÃO PAULO. Os impactos específicos do aquecimento global nos ecossistemas brasileiros não podem ainda ser apontados em razão da falta de estudos regionais e de longa duração sobre o tema. O alerta foi feito ontem por alguns dos mais importantes especialistas em clima do país, dentre os quais autores dos relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU.

Em debate promovido pelo Instituto de Estudos Avançados da USP, os pesquisadores foram unânimes ao afirmar que o aquecimento provavelmente já começa a surtir danos ao meio ambiente brasileiro, mas que avaliações específicas só poderão ser obtidas depois de, no mínimo, 20 anos de pesquisas.

¿ Sabemos que o nível do mar aumenta e a temperatura está maior, mas não há observação sobre o ciclo hidrológico, por exemplo. Não temos informações climáticas de longa duração, e sem isso nunca vamos saber o que já pode estar ocorrendo no país. O Brasil é um vazio no monitoramento de fenômenos físicos e biológicos ¿ disse o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Carlos Nobre, que contribuiu com os relatórios da ONU.

Falta, segundo Nobre, criar núcleos de pesquisas em áreas específicas de pântanos, florestas, regiões costeiras, entre outras, para, a longo prazo, descobrir o efeito globalizado do aquecimento.

Considerando resultados obtidos em bases de observação principalmente de países da América do Norte e Europa, os pesquisadores têm projeções sobre o que pode acontecer no Brasil na segunda metade do século.

Há possibilidade da diminuição da água do solo e uma gradual substituição da área de floresta tropical para uma região de savana na Amazônia Oriental.

Há também o risco do aumento de determinadas epidemias, como a de dengue, em razão do aumento das temperaturas.