Título: O preço do clima
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Fonte: O Globo, 11/04/2007, Ciência, p. 28

ONU: economia global sofrerá menos se corte de gases começar agora.

OSLO

Auta contra o aquecimento global não será tão cara quanto se imaginava se os governos tomarem medidas imediatas para impedir uma elevação significativa da temperatura média do planeta. As informações estão na versão preliminar do novo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês). A versão final será apresentada em 4 de maio, em Bangcoc, mas parte do texto foi antecipada ontem pela agência de notícias Reuters.

Nos dois cenários mais prováveis destacados no relatório ¿ o terceiro de uma série preparada pela ONU ¿ os custos de limitar as emissões de gases do efeito estufa significariam uma perda de 0,2% a 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB) global em 2030. No cenário extremo, que exigiria dos governos a garantia de que as emissões de gases do efeito estufa começassem a ser significativamente reduzidas em 15 anos, os cortes custariam 3% do PIB em 2030. As conclusões coincidem em grande parte com as do relatório divulgado no ano passado pelo ex-economista-chefe do Banco Mundial Nicholas Stern, que estimou os custos de uma ação imediata para frear o aquecimento em 1% das riquezas mundiais, contra um percentual bem mais alto, de 5% a 20%, se houver demora na ação.

O rascunho do relatório da ONU sustenta que ¿há um potencial econômico significativo¿ para cortar emissões de gases do efeito estufa, sobretudo os derivados da queima de combustíveis fósseis. Esse potencial seria ¿suficiente para compensar o aumento das emissões globais ou mesmo para reduzir as emissões¿. O documento aponta que medidas simples, como o uso mais eficiente dos combustíveis fósseis, adoção de energias solar, nuclear e eólica, e o melhor gerenciamento no uso da floresta e das terras destinadas à agricultura, seriam suficientes para reduzir as emissões.

Aos benefícios econômicos da adoção dessas medidas se somariam ainda um ganho para a saúde da população, em razão da redução da poluição, e menos danos aos cultivos agrícolas causados por chuva ácida.

Bush alegou alto custo econômico ao rejeitar Kioto

Uma das principais razões alegadas pelo presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, para não ratificar o Acordo de Kioto ¿ o principal programa da ONU para combater o aquecimento global até 2012 ¿ foi justamente o alto custo que o corte de emissões representaria para a economia americana. Um estudo apresentado na época para embasar o argumento sustentava que os cortes custariam até 4,2% do PIB americano em 2010.

Os números apresentados pelo relatório ¿Mitigação das Mudanças Climáticas¿ são bem menos drásticos e deverão ser debatidos numa reunião de cúpula do G-8, em junho.

As emissões de gases do efeito estufa aumentaram 70% entre 1970 e 2004, e a estimativa é que, sem a adoção de restrições, devam aumentar de 25% a 90% de 2000 a 2030, sobretudo em razão do crescimento de China e Índia.