Título: Manifestação pára centro de Recife
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 12/04/2007, O País, p. 3

Juíza autoriza uso de força policial para desocupação do Incra.

RECIFE. Ruas interditadas, prédios ocupados e rodovias federais engarrafadas marcaram ontem os protestos da União Nacional Por Moradia em Recife, onde trabalhadores ligados ao Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e à Organização e Luta dos Movimentos Populares (OLMP) queimaram pneus e pedaços de madeira para chamar a atenção para cem mil famílias que não têm onde morar na capital. Eles lembraram que a Vila Imperial, no bairro de Santo Amaro, foi considerada por especialistas da ONU como um dos lugares mais degradantes do mundo. Lá, moradores convivem com ratos, lixo e dejetos.

Os sem-teto tumultuaram o centro ontem. De manhã, eles queimaram pneus e pedaços de madeira na Avenida Alfredo Lisboa, no Cais de Santa Rita, onde provocaram grande engarrafamento. Eles também fizeram a mesma ação na Avenida Dois Rios, no Ibura. E ocuparam um prédio vazio no bairro da Encruzilhada, zona norte de Recife. A OLMP ocupou a prefeitura de Paulista. Houve protesto entre Caruaru e São Caetano, no agreste, onde cerca de 300 sem-teto ganharam o reforço do MST e bloquearam com pneus queimados a BR-232, a 140 quilômetros da capital.

Na superintendência do Incra em Recife, depois de três dias de confusão - dois dos quais sem permitir o acesso dos servidores e da superintendente, Maria de Oliveira - os 500 militantes do Movimento Terra, Trabalho e Liberdade (MTL) terão que deixar o órgão hoje. A juíza Joana Pereira, da 11ª Vara Federal, determinou ontem à noite a reintegração de posse da autarquia. Ela deu um prazo de oito horas para o Incra ser esvaziado, autorizou o uso da força policial em caso de necessidade e ainda estipulou uma multa diária de R$1 mil caso o MTL se recuse a cumprir sua decisão.

Pelo país, sem-teto também resolveram chamar atenção de autoridades e da sociedade com invasões de prédios públicos. Em Maceió, um prédio do INSS foi ocupado em protesto à falta de política do governo local para população de baixa renda. Sem-terra chegaram a ocupar o Palácio do governo do Piauí, em Teresina, para protestar contra a decisão do governador Wellington Dias (PT) de cortar direitos trabalhistas dos servidores.