Título: Sem-terra e sem-teto se unem
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 12/04/2007, O País, p. 3

Movimentos fazem invasões e protestos em 12 estados contra políticas agrária e habitacional.

Às vésperas do protesto nacional marcado para o dia 17, o Movimento dos Sem Terra (MST) e as organizações de sem-teto se uniram e aumentaram as manifestações em todo o país contra as políticas fundiária e habitacional do governo Lula. Em menos de 48 horas, eles invadiram fazendas e prédios públicos, interditaram rodovias e fizeram marchas e passeatas em 12 estados. Durante o "abril vermelho", as entidades pretendem fazer manifestações em todo o país até o fim do mês, para pressionar o governo federal a agilizar as reformas agrária e urbana.

Os sem-teto, reunidos na União Nacional Por Moradia Popular (UNMP), fizeram atos simultâneos em dez estados, concentrando-se na ocupação de prédios públicos em áreas urbanas. Em São Paulo, ocuparam seis prédios, inclusive um do antigo BNH no bairro da Consolação, que foi arrombado a golpes de marreta. Cerca de 20 manifestantes montaram três barracas de camping em frente ao prédio da família do presidente Lula, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

Já o MST fez ações em cinco estados, e pelo menos sete fazendas foram invadidas nos últimos dias. Ontem, houve três invasões no Rio Grande do Sul, entre elas a da Fazenda Coqueiros, pela oitava vez. O MST pede o assentamento das 2.500 famílias que vivem em acampamentos.

- Nós vamos para cima porque o governo não cumpriu sequer o que prometeu. Nós reivindicávamos o assentamento de um milhão de famílias em quatro anos, o governo prometeu assentar 415 mil e, até agora, esse número não passa de 86 mil - disse Vanderlei Martini, um dos coordenadores nacionais do MST. - Esse governo continua governando para meia-dúzia de banqueiros. Desde que foi reeleito, o presidente Lula não apresentou nenhuma meta, nem proposta de orçamento para a reforma agrária.

Em São Paulo, 1.200 alunos sem aula

Em Pernambuco, 400 famílias do MST invadiram duas áreas no agreste, além da Fazenda Murici, onde já estavam 200 famílias, e cinco mil trabalhadores rurais marcham de Feira de Santana a Salvador.

Em São Paulo, cerca de 1.200 alunos de três escolas de Itapecerica da Serra estão sem aulas por causa de invasões do Movimento dos Sem Teto (MTST), e cerca de 150 famílias do MST permanecem na área da empresa Suzano Papel e Celulose, em Sorocaba. O governador José Serra criticou o MST:

- Essas invasões são movidas por instrumentação política. Reforma agrária é questão de responsabilidade do governo federal, e não do estado.

No Dia Nacional de Luta Pela Terra, 17 de abril, o MST vai lembrar os 11 anos do massacre de Eldorado dos Carajás, no qual 19 sem-terra foram mortos. Nesse dia, MST e União Nacional Por Moradia Popular farão protesto em Brasília para cobrar soluções do governo. Lula recebe hoje a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), que vai entregar reivindicações ao presidente.