Título: Desembargador confirma suspeita de fraude
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 12/04/2007, O País, p. 15

Ele diz que deixou banca por perceber indícios de irregularidade em concurso para juiz do TJ do Rio.

BRASÍLIA. Em depoimento no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o desembargador aposentado Ivan Cury disse que decidiu deixar seu posto na banca examinadora do último concurso para juiz, realizado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, após a primeira fase. Ele disse ter tomado essa decisão porque percebeu indícios de irregularidades no processo de seleção dos candidatos. A informação foi dada ontem pelo conselheiro Alexandre de Moraes, relator do processo no CNJ, que teve origem numa denúncia feita pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) contra o concurso.

Além de Cury, outros três desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio prestaram depoimento ontem sobre o concurso: Raul Celso Lins e Silva, Walter D"Agostino e Roberto Felinto de Oliveira. Hoje, será a vez do presidente do tribunal na época do concurso, Sérgio Cavalieri Filho, e dos desembargadores Roberto Wider e Conceição Aparecida Mousnier.

Resultado da perícia nas provas sairá esta semana

As declarações dos depoentes serão mantidas sob sigilo e servirão para instruir as investigações conduzidas pelo CNJ sobre as supostas irregularidades. Moraes afirmou que pretende concluir as apurações ainda este mês. Ele deverá levar o relatório final sobre o caso para votação no plenário do conselho na primeira sessão de maio, ainda sem data marcada.

- A investigação está indo bem - disse o conselheiro.

O relator está esperando, ainda para esta semana, o resultado de uma perícia feita pela Polícia Federal nas provas do concurso. Segundo Moraes, pelo menos três respostas dadas por candidatos no teste escrito são idênticas às do gabarito, inclusive usando os mesmos termos em latim e em inglês. Segundo ele, outras respostas de provas são suspeitas, porque apresentam o mesmo padrão de raciocínio do gabarito. Um outro ponto controverso do concurso é o fato de que pelo menos sete dos 24 aprovados têm laços de parentesco com desembargadores do tribunal.

O CNJ já havia requerido à presidência do Tribunal de Justiça que envie ao órgão, responsável pelo controle externo do Judiciário, as provas escritas do concurso sob suspeita e os respectivos gabaritos e notas dadas aos concorrentes na fase escrita e na fase oral da seleção dos aprovados e dos reprovados.

A denúncia sobre as suspeitas de irregularidade no concurso foi publicada no dia 15 de março pelo GLOBO. Um dos examinadores do concurso, o tributarista Ricardo Cretton, disse que a resposta de uma das candidatas reproduzia integralmente o gabarito, o que comprovaria a quebra de sigilo.