Título: Álvaro Lins intercedeu em favor de excedentes
Autor: Rocha, Carla e Ramalho, Sérgio
Fonte: O Globo, 12/04/2007, Rio, p. 17

Licenciado, delegado pediu que edital de concurso para inspetor fosse mudado para beneficiar candidatos.

Os grampos da Polícia Federal complicam a situação na Justiça Eleitoral do ex-chefe de Polícia Civil Álvaro Lins, que já responde a uma acusação de captação de sufrágio (compra de votos) feita pelo Tribunal Regional Eleitoral. Num dos diálogos gravados, Marinho - um dos "inhos" que foi chefe de gabinete de Lins e tesoureiro de sua campanha - combina o pagamento de combustível para o representante de um grupo de policiais concursados, que Lins teria prometido convocar caso fosse eleito (caso 3, no infográfico da página 16). Além disso, as gravações revelam que os concursados chegaram a ter um escritório dentro do comitê eleitoral do ex-chefe de Polícia.

A conversa entre Marinho - Mário Franklin Leite Mustrange de Carvalho - e o líder dos concursados, Kuene Robson Pereira, sobre o pagamento por despesas durante a campanha aconteceu em 24 de outubro de 2006. Há várias referências no relatório dos investigadores sobre a importância da participação do grupo na campanha não só de Lins, mas também de Geraldo Pudim, que se elegeu deputado federal com o apoio do ex-governador Anthony Garotinho. No relatório, os agentes da PF afirmam que Lins chegou a intermediar um encontro de Kuene e uma comitiva de concursados com Garotinho, no Palácio Laranjeiras.

Num diálogo gravado em 19 de novembro de 2006, logo após a eleição, o próprio Lins informa a Marinho que está marcada para o dia seguinte a reunião com o ex-governador. Ele pede que o inspetor informe a Kuene e até se prontifica a oferecer carona, caso ele tenha alguma dificuldade para chegar ao palácio.

"Oi, Marinho! Fala com o Kuene... Acabei de falar com o Garotinho para ele ir lá comigo amanhã, vamos botar 3 horas, lá no Laranjeiras. Ele, pode ser ele e mais um, dois só", afirma Lins no trecho da gravação.

Lins sugere, inclusive, que o delegado Daniel Goulart, lotado na Assistência de Normas e Legislação da Polícia Civil - a quem, segundo a PF, caberia fazer as alterações no edital para permitir a convocação dos concursados - participe do encontro com Garotinho. Há uma ligação em que Marinho orienta Kuene a explorar o lado político do grupo com Garotinho. Pede, inclusive, que seja dito para o ex-governador que cada um deles (concursados) poderá conseguir cerca de 15 a 20 votos. De acordo com a PF, esse encontro foi marcado após intervenção direta de Lins. Ainda de acordo com a investigação, o então candidato Geraldo Roberto Siqueira, Geraldo Pudim, que se elegeu deputado federal, também se aproveitou do grupo para fins eleitorais.

Na acusação de compra de votos feita contra Lins, o procurador Rogério Nascimento, do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), diz que o ex-chefe de Polícia Civil teria afirmado para uma platéia de concursados, durante um evento de campanha, que rasgaria a carteira profissional se não os pusesse na polícia. No grampo, Lins pede que a fita de vídeo do encontro seja retirada de um site para evitar problemas. Lins sempre se defendeu afirmando que apenas apoiava a causa dos concursados, mas que isto nada tinha a ver com compra de votos porque não envolvia troca de favores.