Título: Inflação baixa, juros nem tanto
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 12/04/2007, Economia, p. 29

Mesmo com menor IPCA em 8 anos, mercado prevê que BC manterá política conservadora.

Com o resultado de março de 2007, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses é o menor registrado desde a maxidesvalorização do real, há oito anos. De março de 2006 a março de 2007, o índice ficou em 2,96%, contra uma variação de 2,24% em fevereiro de 1999. No primeiro trimestre de 2007, o IPCA variou 1,26%, ficando também abaixo do acumulado do mesmo período do ano anterior. Em março, o índice medido pelo IBGE ficou em 0,37%, com uma desaceleração ante a alta de 0,44% apurada em fevereiro.

Apesar disso, o mercado não aposta que o Banco Central (BC) abandone a política de redução gradual dos juros. A expectativa geral é de que, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC da próxima semana, o governo mantenha o ritmo lento de corte da taxa Selic, de 0,25 ponto percentual.

- Um dos motivos de o risco-Brasil ser o melhor de toda a história é, em parte, porque o BC está atuando de forma conservadora e previsível - analisa o economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio.

Ele não vê motivos para o BC mudar de postura, uma vez que os dados divulgados pelo IBGE causaram surpresa ao mercado e, muito provavelmente, aos próprios membros do Copom. O BC tinha sinalizado, na ata da última reunião, uma projeção de inflação para o primeiro trimestre do ano entre 1,10% a 1,15%. Como o IPCA do trimestre ficou acima do projetado, o mercado acredita que seria excesso de otimismo alterar a rota.

Para economista, taxa cai a 0,1% até junho

Alguns economistas, como Elson Teles, da Concórdia Corretora, porém, não apostam no viés de crescimento da inflação para o mês de abril. Teles acredita que o IPCA pode recuar, chegando a algo próximo de 0,30% em abril e variando entre 0,10% e 0,20% nos meses de maio e junho.

Embora o cenário macroeconômico seja bastante favorável para a estabilidade dos preços, a inflação de março sofreu a influência da mudança do clima, que empurrou para cima os preços dos produtos agrícolas. O tomate, por exemplo, ficou 19,95% mais caro. O produto é bastante sensível à mudança climática e não tolera chuvas em excesso. Pelo mesmo motivo, cenoura, ovos e batata também ficaram mais caros. Os alimentos aumentaram 0,98%, contra 0,78% registrados em fevereiro.

- Não estamos em crise, mas em compensação estamos vivendo um choque agrícola - afirma Cunha, da PUC. A instabilidade de preços dos alimentos apurada em março é a mais alta dos últimos quatro anos, ficando fora inclusive do padrão sazonal do período. As chuvas, que costumam cessar em fevereiro, estenderam-se por março nas principais regiões produtoras do país. Como conseqüência, a qualidade dos produtos in natura também ficou bastante prejudicada.

- A pressão exercida pelos alimentos sobre o IPCA em março ainda pode se repetir em abril, pois as chuvas vão continuar em São Paulo, que é uma importante região produtora - avalia Eulina dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE. Medicamentos, produtos de vestuário e taxa de água e esgoto também devem exercer forte pressão na inflação de abril.