Título: Infraero: ex-presidente ameaça denunciar
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 12/04/2007, Economia, p. 32

Wilson saberia sobre irregularidades.

BRASÍLIA. Sentindo-se traído por setores do governo e da base aliada, o deputado e ex-presidente da Infraero Carlos Wilson (PT-PE) ameaça quebrar o silêncio sobre as denúncias de irregularidades envolvendo a estatal responsável pela administração dos aeroportos. Segundo amigos, a gota d"água foi a decisão do Conselho de Administração da Infraero de afastar quatro funcionários que trabalharam na gestão de Wilson, sob suspeita de corrupção.

Wilson estaria esperando uma posição do Palácio do Planalto sobre o episódio para decidir o que fazer. No núcleo do governo, já há quem classifique Wilson como o novo "homem-bomba". Não por acaso. Após uma análise detalhada do noticiário em que aparece como o foco da CPI do Apagão Aéreo, Wilson teria deixado clara a disposição de apontar irregularidades na Infraero antes e depois de sua gestão.

- Tudo é atribuído ao deputado Carlos Wilson! Passei três anos na Infraero, como o responsável pela maior modernização dos aeroportos brasileiros. O presidente Lula dizia que a notícia boa do seu governo era a Infraero. Agora, querem destruir o que eu fiz? - teria desabafado Wilson a amigos.

Em conversas reservadas, ele estaria culpando o atual presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, de tentar desviar supostas irregularidades de sua administração. Segundo relatos, Wilson teria lembrado que o brigadeiro foi seu subordinado e participava das reuniões de diretoria, sem nunca ter contestado as decisões.

De acordo com seus amigos, se continuar no tiroteio, Wilson partiria para a guerra a fim de se defender. Ele não aceitaria virar o bode expiatório da crise aérea e teria dito que seu silêncio tem limite. Estaria irritado, inclusive, com setores do PT que estariam alimentando o "fogo amigo".

O governo tenta acalmar Wilson, por meio de emissários, mas o deputado quer uma posição clara do presidente Lula. No dia 30 de março, em um café da manhã, em Recife, ele teve uma longa conversa com Lula. Disse estranhar que tivesse virado alvo de acusações e garantiu que fez uma gestão correta na Infraero.

- Eu não vou ser a bola da vez. Não sei nada de posto de gasolina. Isso não passava por mim - desabafou Wilson para deputados, ao rebater a informação da Controladoria Geral da União e Infraero de que a concessão dada a Shell foi prorrogada sem licitação.

Wilson não foi localizado pelo GLOBO. Segundo sua assessoria de imprensa, estava em São Paulo. O GLOBO também não obteve retorno de José Carlos Pereira.