Título: PF prende quadrilha que chama de 'Homicídio S.A.
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 13/04/2007, O País, p. 5

Bando já teria matado mil pessoas e cobrava de R$1 mil a R$5 mil por assassinato, principalmente em Pernambuco.

RECIFE. A Polícia Federal e a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco desbarataram uma quadrilha que, segundo as investigações, matava em média 200 pessoas por ano, recebendo por cada assassinato de R$1 mil a R$5 mil. O bando, que já agia há cinco anos e teria matado mil pessoas, atuava na região agreste. A quadrilha envolvia empresários, policiais militares, mototaxistas, traficantes, pistoleiros. Trinta e um acusados estão com prisão preventiva decretada, das quais 23 foram cumpridas ontem, durante a Operação Aveloz - uma planta da caatinga que é usada popularmente por pacientes de câncer. Participaram da operação 200 policiais de diferentes estados.

De acordo com o superintendente da PF em Pernambuco, delegado Jorge Pontes, a quadrilha tinha organograma muito bem montado e possuía características diferentes das comuns aos grupos tradicionais de extermínio, formados por justiceiros que matam marginais.

A organização recebia para matar por qualquer motivo, e entre seus clientes encontravam-se pessoas influentes na região. Eram empresários, agiotas, pessoas da sociedade local com desafetos, alguns por motivos familiares e outros devido a negócios. A quadrilha atuava em todo o agreste, a partir de Caruaru, a 130 quilômetros da capital. Pontes disse que os acusados também participavam de tráfico de armas e de entorpecentes. Esse foi o motivo que deu origem às investigações:

- Elas (as investigações) começaram devido ao tráfico de drogas. De repente, achamos uma espécie de clínica geral, que atuava em vários tipos de crimes, inclusive no de pistolagem. Encontramos um empreendimento muito bem organizado, uma espécie de Homicídio S.A., que cobrava para matar.

Pontes e o secretário de Defesa Social, Romero Menezes, afirmaram que essa foi a primeira de uma série de operações conjuntas entre o governo federal e o estado com o objetivo de combater a criminalidade. Ao todo, 48 mandados de busca e apreensão foram cumpridos nos três estados, a maior parte deles na região agreste. Um dos acusados foi preso no Pará.

De acordo com decisão da 3ªVara Criminal de Caruaru, os acusados tiveram o sigilo bancário e fiscal quebrados, foram bloqueadas as contas correntes, e seus bens foram seqüestrados. A medida atinge os acusados em outros estados, como Pará e Alagoas. Eles responderão por tráfico de drogas e de armas, formação de quadrilha e porte e posse de armas. Se condenados, poderão pegar penas de três a 30 anos de reclusão.

O secretário de Defesa Social de Pernambuco, Romero Menezes, disse que 30 policiais militares participaram da Operação Aveloz, apesar de haver PMs entre os acusados.

- Essas pessoas não são policiais, mas bandidos que por acaso estavam na corporação, integrando a banda podre da PM, que felizmente é uma minoria dentro da corporação.

Menezes reclamou da legislação que acoberta militares com mais de dez anos de serviço, que ficam na corporação, mesmo tendo praticado crimes hediondos. Ele disse que em Pernambuco mais de cem estão nessa situação.

Segundo a polícia, o chefe do esquema seria Edson Neneo de Sobral, o Galinheiro, que é um empresário influente no agreste. Ele financiaria a organização criminosa. Outro empresário apontado no esquema é Fernando Antônio Gomes Dias, acusados de ser mandante dos homicídios. De acordo ainda com o DPF e a SDS, Rosemário Bezerra Menezes (Preto) é apontado como agenciador dos homicídios, cujos serviços eram executados pelos pistoleiros José Paulino dos Santos Neto, Manoel Pereira Ferreira, Josenildo Pereira Ferreira e José Luciano da Silva.