Título: Um negociador paciente
Autor:
Fonte: O Globo, 13/04/2007, Economia, p. 41

No México, Slim só é menos poderoso que o governo.

Corre de boca em boca no mundo dos negócios uma frase que traduz com perfeição o estilo agressivo do empresário Carlos Slim Helú: ¿Si quieres ganar, no entre en peleas con Slim¿. Ou seja: não brigue com ele. É que o milionário, engenheiro de formação, não gosta de perder dinheiro. Só de ganhar. Numa recente concorrência com a Domino's Pizza, para abrir uma cafeteria Starbucks no México, Slim perdeu a disputa. Inconformado, começou a dificultar a vida da Domino's, que tinha lojas em um de seus shopping centers espalhados pelo México.

Apesar de conhecido por seu apetite em comprar empresas de telecomunicações, todas agrupadas sob a América Móvil, Slim é um homem de negócios que tem de tudo um pouco: fazendas de café, empresas de seguro e até um museu.

Seu império, o Grupo Carso, começou a ser construído nos anos 60. Os três filhos e uma das filhas de Slim trabalham nas empresas do grupo, todas elas comandadas com mão-de-ferro pelo patriarca. Conhecido por seu estilo sóbrio e avesso a badalações, Slim é considerado um negociador paciente e calculista. Comprar empresas ¿em baixa¿ é sua expertise ¿ o que acaba garantindo a ele um poder de negociação bastante interessante do ponto de vista financeiro.

¿Entre as forças econômicas do México, nada, exceto o próprio governo, é mais poderoso que Carlos Slim¿, escreveu seu biógrafo, o mexicano José Martínez, no livro ¿Carlos Slim ¿ um retrato inédito¿. Algumas páginas são gastas com histórias pouco lisonjeiras para a trajetória fulgurante do personagem.

Martínez conta como Slim se aproveitou da amizade do ex-presidente do México Carlos Salinas de Gortari para ser favorecido na compra da estatal de telecomunicações Telmex. Quando esteve no Brasil para negociar o lançamento do livro, o jornalista e escritor disse que gostaria de incluir mais um capítulo dedicado ao Brasil.

Seguindo os passos do mais famoso bilionário do mundo, Bill Gates, Slim declarou recentemente à revista ¿Forbes¿ que vem doando dinheiro para projetos sociais, mas pouco. No início dos anos 90, ele doava 1% da sua fortuna. ¿Eu concordo que não estou fazendo o suficiente¿, declarou ele à revista, admitindo que pensava em aumentar a doação para 20% do seu patrimônio.