Título: Lula manda barrar CPI no Senado
Autor: Lima, Maria e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 14/04/2007, O Globo, p. 3

Planalto pede a líderes que tentem restringir à Câmara a investigação sobre apagão aéreo.

Antes de embarcar, domingo à noite, para viagem de dois dias à Venezuela, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu ontem com os três líderes do governo no Congresso para avaliar os vários cenários da CPI do Apagão Aéreo e articular a estratégia da base governista. Cientes de que a CPI é praticamente inevitável, Lula e os líderes concluíram que é preciso abortar a investigação no Senado, onde a oposição é mais forte, e administrar a comissão na Câmara, onde a base governista já mostrou que tem força e votos.

Os líderes do governo na Câmara, José Múcio Monteiro (PTB-PE), no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e no Congresso, senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), passaram cerca de quatro horas no Planalto com Lula e o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia. A ordem é que os líderes tentem evitar a CPI, mas, se não for possível, que briguem para que se restrinja à Câmara.

¿ O presidente não está montando uma tropa de choque para evitar a CPI, não vamos pedir a ninguém para retirar assinaturas. Tenho defendido que a CPI fique na Câmara, onde tudo começou, e onde está aquela quizumba de obstrução ¿ disse Jucá.

José Múcio: ¿Uma é ruim, duas é pior¿

Segundo Jucá, a articulação na Câmara ficaria a cargo de José Múcio, que já estaria em contato com líderes da oposição e com o presidente da Casa, Arlindo Chinaglia, para instalar a CPI antes do Senado.

¿ O Zé Múcio disse na reunião que os líderes da base estão querendo fazer a CPI lá na Câmara. O presidente disse para ele se entender com os partidos, porque ele não quer interferir. Lógico que, se o governo pudesse escolher, escolheria não ter CPI nenhuma, mas não pode escolher ¿ disse Jucá. ¿ O governo não quer CPI como qualquer governo não quer CPI. Mas não vai interferir, não vai fazer nenhum tipo de manobra.

Embora negue a articulação governista, Jucá admite a instalação da CPI na Câmara antes mesmo da decisão do Supremo Tribunal Federal sobre o assunto, prevista para o fim do mês:

¿ Se houver um entendimento entre os partidos na Câmara, pode-se instalar lá a CPI imediatamente, não precisa esperar a decisão do Supremo.

O líder José Múcio também admite que, ¿aritmeticamente¿, é melhor para o governo que a CPI aconteça na Câmara, onde tem uma margem maior de aliados.

¿ Se perguntarem se é mais fácil (conduzir uma CPI) aqui na Câmara, eu digo que é uma questão aritmética. Os números é que dizem.

¿ Venho alertando isso há três semanas: vamos instalar logo a CPI na Câmara, porque lá no Senado a coisa vai ficar incontrolável ¿ emendou o líder do PTB, Jovair Arantes (GO).

José Múcio afirmou também que as conversas dos dois últimos dias com líderes da oposição foram para discutir procedimentos de votação na Câmara.

Admitindo que setores do PSDB estariam propensos a aceitar o funcionamento de uma única CPI, na Câmara, o líder do partido no Senado, Arthur Virgílio (AM), diz que será difícil recuar, pois o pedido já tem 28 assinaturas de senadores. Ele afirma que na próxima semana, consolidados os apoios previstos para o requerimento de criação da CPI na Casa, ele se reunirá com o líder do Democratas, Agripino Maia (RN), para decidir o que fazer.

¿ Entendo que retroagir no Senado será muito difícil, assim como a instalação de uma CPI na Câmara é irreversível. A questão é que uma CPI no Senado é garantia de que o governo não passará o trator na minoria na Câmara ¿ observou Virgílio.

Agripino insistiu que só há uma possibilidade de o Senado não instalar a CPI: se houver um pedido dos líderes do DEM e do PSDB da Câmara:

¿ Fora isso, a CPI será criada.

Nos bastidores, porém, democratas e tucanos estariam articulando uma estratégia alternativa. Uma das hipóteses seria transformar a CPI da Câmara em mista, o que abriria espaço para os senadores participarem da investigação sobre a crise aérea. Ao mesmo tempo, permitiria uma correlação de forças mais equilibrada entre governo e oposição, assim como ocorreu na CPI dos Correios.

¿ Uma CPI é ruim, duas é pior, três é muito mais. Qualquer chefe do Executivo não gosta de CPI. O problema não é o foco, é o palanque. É por isso que em São Paulo o governo luta para não instalar. Procure saber se em Minas há alguma, se no Rio Grande do Sul há alguma ¿ afirmou Múcio, citando estados governados por tucanos.

Jucá completou:

¿ CPI é um instrumento de perturbação do processo de votação normal. Como é conduzida, atrapalha as votações e contribui para complicar o clima entre governo e oposição.

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