Título: Furacão é apenas o primeiro passo de devassa
Autor:
Fonte: O Globo, 14/04/2007, Rio, p. 16

A MÁFIA OFICIAL: Corregedor de Justiça abre sindicância para apurar infrações disciplinares dos desembargadores

Análise inicial dos documentos que foram apreendidos com os presos abriu caminho para novas investigações

A Operação Hurricane, na qual foram presas 25 pessoas, é apenas o primeiro passo da Polícia Federal para desarticular uma organização criminosa que estaria infiltrada nos poderes Judiciário e Executivo do Rio. Segundo o delegado Renato Porciúncula, diretor de Inteligência Policial (DIP), e o delegado Delci Teixeira, superintendente da PF no Rio, a operação que levou à prisão de dois desembargadores, um juiz, um procurador regional da República, três delegados da PF e três banqueiros da cúpula da contravenção do Rio terá outros desdobramentos.

- Esta etapa da operação é a primeira. A partir do interrogatório dos presos e do material apreendido, poderemos sugerir ao ministro relator do caso outras prisões temporárias e até preventivas - disse Renato Porciúncula.

Coordenador das investigações, o diretor da DIP contou que não poderia dar detalhes das investigações porque elas estavam em segredo de Justiça, mas afirmou:

- Estamos lidando com uma organização criminosa que atua há bastante tempo infiltrada nos poderes da República. E a importância das prisões é emblemática: as pessoas que foram detidas achavam-se acima de qualquer possibilidade de vir um dia a encontrar os trâmites legais correspondentes.

O delegado lembrou que a organização criminosa é suspeita de explorar jogos ilegais, corrupção, tráfico de influências e receptação:

- Eles montaram uma rede de corrupção e tráfico de influência no Estado do Rio para continuar a desenvolver a sua atividade criminosa tranqüilamente. Esperamos que o golpe tenha abalado essa estrutura.

Preso teria decidido colaborar com investigações

Delci Teixeira contou que tem acompanhado seus servidores e todo desvio de conduta tem que ser apurado e punido.

- Se o servidor estiver fazendo um bom trabalho, deixa ele fazer o bom trabalho. Se ele estiver fazendo um mau trabalho, deixa ele com corda até que se enforque - disse.

A primeira análise dos documentos apreendidos em poder dos bicheiros, advogados e magistrados reforçou ainda mais as suspeitas sobre o grupo de presos e abriu caminho para novas investigações. Para a polícia, existem indícios suficientes para incriminar outras pessoas não citadas nesta primeira fase da Hurricane.

Um dos presos teria decido colaborar. A expectativa da polícia é que ele, com interesse em reduzir futuras penas, estaria disposto a entregar outros chefes da organização.

- Se conseguirmos esse acordo, vai sobrar para muito mais gente. Hoje (ontem) foram presos os chefões, os capos dos capos. Muita água vai rolar ainda - advertiu um delegado.

Um dos desdobramentos será no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que também vai investigar os magistrados supostamente envolvidos no esquema denunciado pela Polícia Federal. Ontem, o corregedor nacional de Justiça, ministro Antônio de Pádua Ribeiro, que é membro do CNJ e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), determinou a abertura de sindicância para apurar possíveis infrações disciplinares cometidas pelos desembargadores presos pela polícia. Pádua Ribeiro solicitou informações ao ministro Cezar Peluso, relator do inquérito sobre o caso que tramita em segredo de Justiça no Supremo Tribunal Federal (STF). A investigação do CNJ poderá ser convertida em processo disciplinar contra os magistrados e, ao fim das apurações, se for confirmada a culpa dos suspeitos, eles poderão ser afastados de suas atividades.