Título: Desembargador preso pela PF perdeu eleição no tribunal
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Fonte: O Globo, 14/04/2007, Rio, p. 16

TRF escolheu seu novo presidente em meio a boatos

Por uma diferença de apenas seis votos, o desembargador Carreira Alvim deixou de ser eleito presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região. Ex-vice-presidente e mais antigo magistrado do TRF-2, ele foi derrotado pelo colega Castro Aguiar numa disputa marcada por boatos de que o Tribunal seria atingido por algum escândalo, a exemplo do que ocorrera em 2002, envolvendo três desembargadores.

Com 14 anos de tribunal, Carreira Alvim esperava vencer pela regra considerada até então. Mas, ao eleger Castro Aguiar por 15 a nove, o TRF contrariou a tradição de optar pelo mais antigo. O processo eleitoral, no dia 1º de março, foi marcado por bate-boca e troca de acusações entre dois grupos em conflito há pelo menos cinco anos no tribunal.

O desembargador Ricardo Regueira, que embarcaria para a Espanha pouco depois, atuou como cabo eleitoral de Carreira Alvim. Nos corredores do TRF, boatos indicavam que o seu interesse era pelo cargo de corregedor. Porém, ao fim da contagem dos votos, o resultado apontou a derrota de todo o grupo. O desembargador Paulo Espírito Santo ¿ 12 anos de casa ¿ perdeu a vice-presidência para seu colega Fernando Marques, com nove anos de nomeação. Já para a Corregedoria foi eleito Sérgio Feltrin, relator no TRF do caso das máquinas caça-níqueis.

Eleição foi a mais tensa da história do TRF

Já desconfiado de que havia algo no ar, Carreira Alvim não escondeu durante as eleições que se sentia vigiado. Ele chegou a dizer que sua candidatura era uma resposta a essas supostas investigações, cuja origem desconhecia. O desembargador reclamou publicamente ter sido vítima de escuta ambiental em seu gabinete, além de grampo nos telefones seus e de seus parentes. Ele chegou a exibir, para os colegas, um disquete com o que seria a prova dos grampos telefônicos e prometeu provar a sua honestidade.

Derrotado, voltou a se queixar do desrespeito à tradição de eleição do mais antigo. Foi informado de que valeu, no TRF, o entendimento de que o regimento, ao falar em ¿preferencialmente os mais antigos¿, não torna obrigatória esta opção. Em 2003, o mesmo tribunal optara pela eleição de Valmir Martins Peçanha para a presidência, em detrimento do seu colega Henry Bianor Chalu Barbosa, então o mais antigo, numa demonstração de que havia precedentes.

Para garantir a vitória de Castro Aguiar, o grupo que o apoiava fechou um acordo. Para justificar a escolha, alegaram que Castro Aguiar, com a experiência acumulada como corregedor na última gestão, estaria em melhores condições de assumir a presidência do TRF. O processo revelou, contudo, que as razões iam além disto. Pesou também o histórico de decisões supostamente polêmicas de Carreira Alvim, principalmente no período em que ocupou a Vice-Presidência da Casa.

A eleição do dia 1º de março, segundo contam alguns desembargadores, foi uma das mais tensas da história do tribunal. Nos dias que a antecederam, houve intensa movimentação de alguns desembargadores em busca de uma nova candidatura, provocando surpresas nos mais antigos, defensores da tradição.

Terminada a votação e anunciado o resultado, Carreira Alvim e Castro Aguiar protagonizaram um festival de trocas de acusações. A posse do novo presidente aconteceu anteontem, horas antes da prisão de Carreira Alvim.