Título: BC compra US$1,2 bi, mas dólar cai a R$2,022
Autor: Eloy, Patricia e Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 14/04/2007, Economia, p. 35

Forte entrada de recursos estrangeiros faz Brasil melhorar uma posição na lista dos países mais arriscados do mundo.

RIO e WASHINGTON. A compra de mais de US$1,2 bilhão pelo Banco Central (BC) no mercado à vista, um dos maiores volumes já comprados este ano, não impediu que o dólar fechasse ontem em queda de 0,69%, cotado a R$2,022. É o menor nível desde 20 de fevereiro de 2001 (R$2,011). Naquele ano, três dias antes, a moeda foi negociada, pela última vez, a R$1,99. A inflação abaixo do esperado nos Estados Unidos atraiu um forte fluxo de recursos estrangeiros para o Brasil, levando indicadores como risco-Brasil e Bolsa a patamares recordes.

O risco-país, indicador da confiança dos investidores estrangeiros no Brasil, caiu 1,28%, para 154 pontos centesimais, bem abaixo da média dos emergentes, de 158 pontos. Com a queda de ontem, o país recuou da sexta para a sétima posição entre os países mais arriscados do mundo acompanhados pelo banco americano JP Morgan, superando as Filipinas.

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) também sentiu os efeitos da entrada de capital externo e teve ontem o segundo recorde seguido em pontos, se aproximando dos 48 mil pontos. O Ibovespa - índice que reúne as ações mais negociadas - subiu 1,22%, encerrando o pregão aos 47.926 pontos.

O saldo de investimento estrangeiro até o dia 10 deste mês, positivo em R$610,2 milhões, dá a medida do apetite dos aplicadores externos. No mesmo período do mês passado, o indicador estava negativo em R$796,4 milhões. No acumulado do ano, o saldo está positivo em R$912,5 milhões.

Ontem, o combustível para o otimismo dos investidores foi a inflação no atacado nos EUA. Embora os preços tenham subido 1% em março, acima das projeções de 0,6%, o núcleo - que exclui custos de alimentos e energia, mais voláteis -, ficou estável, ante estimativas de 0,7%. Nos últimos dias, o temor de uma inflação mais alta nos EUA havia gerado perdas nos mercados americano e brasileiro.

Tributação de empresa pode cair para compensar câmbio

O Brasil estuda colocar em prática medidas tributárias para compensar os efeitos do real valorizado para alguns segmentos da economia, disse ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em Washington:

- Temos que aliviar a carga tributária dos setores que mais sofrem, como os de mão-de-obra intensiva e de alta tecnologia. O governo tomará medidas nos próximos meses.

Mantega está nos EUA com duas missões. A primeira é a de convencer o Fundo Monetário Internacional (FMI) a utilizar um critério, no atual processo de revisão de cotas da entidade, que permita com que o Brasil suba na tabela e tenha, assim, maior poder de voto nas decisões do organismo. A segunda é a de convencer as agências de classificação de risco a melhorarem a avaliação do Brasil, o que tornaria mais fácil e barato obter empréstimos no exterior.

- Os que cresceram mais e têm um PIB maior, têm que ter cotas maiores e, portanto, um poder de decisão maior no Fundo. É nossa principal reivindicação - afirmou, lembrando que hoje o Brasil é a oitava maior economia do mundo "levando em consideração a paridade do poder de compra".

Na segunda-feira, Mantega estará em Nova York. Em visita às agências de risco, ele vai sugerir que sejam mais rápidas na avaliação dos progressos do Brasil:

- Elas estão atrasadas ao achar que o Brasil ainda não tem condições de ser investment grade. O país avançou muito, o que é reconhecido por quase todos os analistas - disse o ministro, que se encontrou com o secretário do Tesouro americano, Henry Paulson.

(*) Correspondente