Título: Documento prova que presidente do Banco Mundial favoreceu namorada
Autor:
Fonte: O Globo, 14/04/2007, Economia, p. 35

Aumentam as pressões para que Paul Wolfowitz deixe a instituição.

WASHINGTON. Pouco mais de cem páginas de documentos internos, divulgados ontem pelo Banco Mundial (Bird), mostraram que o seu presidente, Paul Wolfowitz, de fato determinou pessoalmente uma promoção e dois aumentos salariais acima do permitido pelas regras da casa, para a funcionária Shaha Riza, que é sua namorada.

Diante disso, aumentaram as pressões, tanto da Associação dos Funcionários do Bird como de organizações não-governamentais, para que o conselho de direção do Bird o demita ou force a sua renúncia. No entanto, o conselho de direção do banco, formado por 24 pessoas que representam os 185 países sócios, e que passara a quinta-feira discutindo o assunto, decidiu adiar o veredito para depois da reunião anual conjunta de Bird e Fundo Monetário Internacional (FMI), que termina amanhã.

A grande maioria dos ministros da Fazenda de todo o mundo, que participam do evento, evitaram manifestar sua opinião publicamente. Alguns, no entanto, disseram que as investigações devem prosseguir:

¿ Estive reunido com diretores europeus do Banco Mundial e eles me disseram que há uma grande preocupação a respeito desse caso ¿ disse Joaquin Almunia, Comissário Europeu para Assuntos Econômicos e Monetários.

¿ Acredito que investigações devam ser feitas e apuradas de modo a saber se as acusações têm algum sentido. Por outro lado, é preciso ver se Mr. Wolfowitz continua tendo condições morais para continuar no cargo. Não cabe a mim julgar ¿ disse o ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega.

Otaviano Canuto, diretor do Brasil no Bird, que faz parte do conselho de direção do banco, preferiu se manter em silêncio. Ele também participa desse processo como testemunha, pois quando Wolfowitz determinou a promoção e aumentos salariais de sua namorada, o brasileiro fazia parte do Comitê de Ética, que vinha cuidando desse caso ¿ e acabou sendo desprezado pelo presidente do Bird.

Os papéis divulgados ontem mostram claramente que, em vez de seguir os procedimentos internos, consultando o grupo que monitora os conflitos de interesses, Wolfowitz simplesmente mandou o vice-presidente do Departamento de Recursos Humanos promover Shaha. Wolfowitz decidiu aumentar o salário dela de US$136.000 anuais para US$180.000 ¿ e depois para US$193.500 ¿ para compensá-la pelo fato de ter de interromper a sua carreira, ao ser transferida temporariamente para o Departamento de Estado. Isso teria de ser feito porque, pelas regras do Bird, um funcionário não pode ter seu cônjuge ou companheiro como subalterno direto ¿ caso de Wolfowitz e Riza. (José Meirelles Passos, correspondente)