Título: Escolas sem professores e até sem teto, uma realidade em Pernambuco
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 15/04/2007, O País, p. 4

Cem mil estudantes, de 7 a 14 anos, fora das salas de aula no estado.

RECIFE. Mal tinha reiniciado o ano letivo, o Colégio Estadual Caio Pereira, em Recife, teve que interromper as aulas, deixando 1.200 alunos em casa. No dia 1º de abril, um domingo, o teto desabou, o que por pouco não provocou uma tragédia. Às 7h30m, meia hora depois do desabamento, a escola abriria as portas para o Programa Escola Aberta, que acolhe crianças e adolescentes em situação de risco nos fins de semana. A cada turno, o Caio Pereira recebe 400 alunos e, no domingo, pelo menos 200 circulam pelas suas salas.

O telhado já está sendo restaurado, e as aulas só serão retomadas, em sistema de rodízio, no mês que vem. O fim da obra está previsto para junho. Enquanto o colégio não estiver pronto, a cada dia metade dos alunos terá aula. A outra metade ficará sem estudar.

Segundo o secretário de Educação de Pernambuco, Danilo Cabral, outros colégios enfrentam os mesmos problemas. Cabral, que assumiu a pasta em janeiro, classifica de caótica a estrutura física da rede estadual.

- Encontramos uma média de desabamento de um telhado por mês. Já percorremos 1.105 escolas, e 348 estão com problemas no telhado. Só para a recuperação, serão necessários R$20 milhões - disse.

Segundo a secretaria, há cem mil estudantes, de 7 a 14 anos, fora da sala de aula. Há outros 70 mil de outras faixas etárias na mesma situação. Cabral informou ainda que 50% das escolas de nível médio não dispõem de rede para laboratórios de informática. Dos 945 mil alunos da rede pública estadual, pelo menos 495 mil estão defasados na relação idade-série.

- Nos últimos oito anos ao que vínhamos assistindo em Pernambuco era um processo de desinvestimento na educação. Os gastos com professores, que chegavam a 59,1% da receita para educação, caíram para 41,5% no final da administração anterior. Houve também uma inversão de prioridades. Os gastos com alunos e infra-estrutura somavam 44% da receita do setor, mas caíram para 26%. A prioridade ficou para planejamento, administração, ensino superior e o Conselho Estadual de Educação - criticou o presidente do Sindicato estadual de Professores e Trabalhadores em Educação, Heleno Araújo.

Ele citou o caso do Colégio Guedes Alcoforado, cujo teto também desabou e no qual havia até esgoto a céu aberto. O Colégio Castelo Branco, atualmente funcionando em sistema de rodízio, tinha infiltrações tão profundas no teto por onde passava a fiação elétrica que os alunos tomavam choque ao encostar nas paredes.

Alguns secretários do governo anterior, como o da Ciência e Tecnologia, Cláudio Marinho - o atual governador, Eduardo Campos, substituiu os governos de Jarbas Vasconcelos e José Mendonça Filho -, reconhecem que a educação foi um dos pontos frágeis da administração passada, quando o Ministério Público exigiu do governo a contratação de dez mil professores.

O sindicato reclama ainda do excesso de professores temporários (que não pertencem ao quadro efetivo do estado): são sete mil num total de 29 mil em exercício, com salários menores e sem direito a cursos de aperfeiçoamento.