Título: Oposição se divide sobre abertura de diálogo com Lula
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 15/04/2007, O País, p. 10

Presidente do PSDB admite conversar, mas diz que manterá fiscalização sobre governo; DEM descarta possibilidade.

BRASÍLIA. Os planos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de estabelecer um canal de diálogo com a oposição, manifestados inicialmente durante um café da manhã na semana retrasada com o senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) e reiterados na última quarta-feira em meio a um jantar com o PMDB, divide Democratas e tucanos. O PSDB até aceita sentar-se para conversar, mas o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RN), descarta essa possibilidade.

Embora a base governista tenha conseguido mostrar sua força na Câmara, a crise em torno da CPI do Apagão serviu para reforçar a fragilidade do apoio que Lula dispõe no Senado. Como a investigação sobre a crise aérea está longe de ser a única preocupação imediata do governo, que terá de garantir até o fim do ano a prorrogação da cobrança da CPMF e da Desvinculação das Receitas da União (DRU), o presidente ensaia um primeiro contato direto com os dirigentes do PSDB e DEM.

O presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), admite a hipótese de se sentar à mesa com Lula. E não descarta a possibilidade de uma mudança de comportamento da oposição.

- A oposição pode mudar, desde que o governo mude e garanta a punição de todos os envolvidos em escândalos de corrupção ou altere os critérios que tem usado para preencher os cargos da administração pública - explica Tasso.

Para Tasso, é importante deixar claro que a oposição continuará fiscalizando as ações do governo, mesmo se for aberto o diálogo:

- Não temos problemas em dialogar com o presidente. Um convite dele seria um gesto de polidez democrática, ainda mais no meu caso, que tenho relação de amizade com ele.

Agripino admite diálogo, mas faz exigências

Para ele, de qualquer forma, o governo terá dificuldades para aprovar a prorrogação da CPMF e da DRU:

- Vou defender que o meu partido apóie uma emenda constitucional que apresentei, que reduz gradativamente a cobrança da CPMF e a torna definitiva depois de cinco anos, só que com uma alíquota de 0,08% para garantir apenas o caráter fiscalizador desse imposto e não o arrecadatório.

O DEM está mais arredio. O líder da bancada no Senado, Agripino Maia (RN), considera necessário que o governo pavimente o caminho antes de fazer qualquer convite à oposição. Um primeiro passo seria o de reduzir a edição de medidas provisórias. Outro, diz, seria administrar com cuidado as investigações do Congresso sobre a crise aérea.

Já o presidente do partido, deputado Rodrigo Maia (RJ), não parece disposto a abrir a guarda para Lula em nenhuma hipótese e reforça a disposição do partido de manter uma linha de oposição mais dura em relação ao governo petista:

- Não temos intenção de sentar com o presidente Lula. O governo tem seus interlocutores no Congresso, o local que consideramos apropriado para negociarmos qualquer assunto de interesse do país.