Título: Ana Júlia abre seu governo para Jader no Pará
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 15/04/2007, O País, p. 12

Governadora petista nomeia parentes e divide cargos no estado com o ex-governador e hoje deputado do PMDB.

BELÉM. Ex-governador do Pará, o deputado federal Jader Barbalho (PMDB) voltou com força ao governo do estado sem ter sido eleito para isso. Sua presença, em forma de indicações para cargos estratégicos na administração da petista Ana Júlia Carepa, divide espaço com a própria governadora. Ambos nomearam parentes, ex-agregados e aliados para cargos no governo. Adversários em passado recente, os dois grupos convivem hoje, pelo menos aparentemente, em harmonia.

Na eleição do ano passado, a ex-senadora Ana Júlia, com apoio e dedicação de Jader e seus aliados, pôs fim a um período de três mandatos seguidos do PSDB no estado, derrotando o tucano Almir Gabriel, que tentava voltar para seu terceiro governo (o antecessor de Ana Julia foi Simão Jatene).

Namorado pilota o avião oficial e ainda ganha diárias

Como gratidão ao novo aliado - que também está próximo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e mereceu esta semana novos elogios, no jantar do PMDB -, Ana Júlia cedeu fartas fatias do poder a Jader. Mas, antes, tratou de garantir para seus parentes lugar no banquete.

A lista de familiares beneficiados por Ana Júlia é extensa, embora ela insista em dizer que não pratica nepotismo e até condene a prática. A justificativa para sua resposta é técnica: ex-marido, ex-cunhado e ex-mulher do ex-cunhado não são parentes. Quantos aos que não são "ex", argumenta que quem os convidou foram os secretários.

Logo que assumiu, em janeiro, a governadora nomeou o namorado, Mario Fernando Teixeira Nery Costa, para um cargo de diretor lotado na Governadoria do estado, para estar a seu dispor. Mario é piloto de avião e, antes de entrar a bordo do governo, trabalhava com táxis aéreos. Agora, é ele quem pilota o avião oficial da governadora. Como funcionário do governo, toda vez que viaja tem direito a diárias. No início do mês, recebeu quatro diárias e meia para ficar com Ana Júlia no Rio.

Separada há anos de Marcílio de Abreu Monteiro, com quem tem dois filhos, a governadora o empossou como titular da Secretaria Extraordinária de Projetos Estratégicos. Antes de ser secretário da ex-mulher, Marcílio foi gerente executivo do Ibama - cargo do governo federal - também por indicação dela, então senadora do PT. Marcílio foi envolvido em denúncias de que estaria beneficiando madeireiras em troca de recursos para campanhas do PT. A CPI da Biopirataria do Congresso, que investigou o episódio, no entanto, não o citou no relatório final.

O irmão de Marcílio, Maurílio de Abreu Monteiro, também é secretário de Ana Júlia. Ocupa a Secretaria de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia do estado. Sua ex-mulher, Maria Joana da Rocha Pessoa, é assessora especial II, lotada no gabinete da governadora. Maria Joana, como Marcílio, também foi investigada por operações com madeireiros e absolvida pela CPI.

A governadora também deu um cargo de assessor II para o primo Arthur Emílio Carepa Alivert. Os salários de assessores variam de R$3 mil a R$4 mil.

Nomeação de cabeleireira e esteticista foi suspensa

Os irmãos da governadora, Luís Roberto Vasconcelos Carepa e José Otávio de Vasconcelos Carepa, foram contemplados com funções de livre provimento. O primeiro é diretor da Escola Técnica do SUS, e o segundo, secretário-adjunto de Esportes e Lazer.

Em fevereiro, publicou-se no Diário Oficial do estado a nomeação de Manuella Figueiredo Barbosa, cabeleireira, e Franciheli de Fátima Oliveira da Costa, dermatologista, para a função de assessoras especiais da governadora. Depois que se descobriu a maquiagem - elas atuariam, de fato, como cabeleireira e esteticista -, o governo veio a público afirmar que a nomeação fora um equívoco, e as duas foram exoneradas.

O promotor de Direitos Constitucionais e do Patrimônio Público do Pará, Jorge de Mendonça Rocha, encaminhou ofício no início do mês à governadora Ana Júlia, ao prefeito de Belém, Dulciomar Costa (PTB), e aos presidentes da Assembléia Legislativa e da Câmara Municipal para que demitam, em 60 dias, servidores com algum grau de parentesco com as autoridades.

- A intenção é que os governantes demitam os parentes. Se nos informarem que não há, vamos investigar e, se descobrirmos, vamos instaurar um procedimento - disse o promotor.