Título: Alfabetizadoras dão informações contraditórias
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 16/04/2007, O País, p. 3

Inscritos no programa se mostram surpresos ao ver seus nomes em lista

BRASÍLIA. A coordenadora do Brasil Alfabetizado na Secretaria de Educação do Distrito Federal, Rosângela Maria Pinheiro, e as alfabetizadoras em Engenho das Lajes Gicélia Lanes Vasques e Úrsula Andreia Lopes deram informações contraditórias sobre o controle e acompanhamento do programa. Rosângela disse ao GLOBO que nunca havia ido à localidade, uma vez que não há verba nem pessoal específico para a fiscalização das 131 turmas do convênio com o Ministério da Educação. Gicélia e Úrsula, porém, afirmaram que a coordenadora já esteve na casa dos pais de Gicélia, onde hoje funcionariam as turmas.

- Não tenho que dar satisfação da minha vida particular. Fui à chácara de uma amiga, e elas (Úrsula e Gicélia), sabendo que eu estava lá, me chamaram. Em sala de aula, eu não fui - disse Rosângela.

Na quarta-feira, às 22h10m, meia hora após O GLOBO deixar a localidade, Rosângela telefonou para o repórter. Ela estava irritada porque a equipe do jornal foi à cidade antes de entrevistá-la, na manhã seguinte. No telefonema, contou que o Tribunal de Contas da União já havia fiscalizado turmas do programa sem encontrar irregularidades. Ela enfatizou que as alfabetizadoras são responsáveis pela veracidade das informações do cadastro.

A empregada doméstica Raquel Gomes, de 22 anos, e sua mãe, Bertolina, estão entre os 97 nomes da lista. Elas dizem que nunca se inscreveram nem foram às aulas:

- Passaram aqui em casa pegando os nomes. Mas nunca fomos - disse Bertolina.

O pedreiro Espedito Alves Rodrigues, de 35 anos, já fez cursos em anos anteriores. Ele ficou surpreso quando O GLOBO mostrou seu nome na lista e foi à casa da alfabetizadora cobrar uma explicação:

- Você pegou meu nome, passou para esses moços e agora eles estão aqui - reclamou o pedreiro para Gicélia.

- É que imprimiu errado, esse Espedito é outro - respondeu a alfabetizadora.

A dona-de-casa Diva Hilário Ribeiro, de 64 anos, foi outra analfabeta que não se matriculou e foi cadastrada:

- Vieram na minha casa. Falei que já estou velha para estudar.

Vizinha de Diva, Raimunda Alves Vila Nova já fez outros cursos de alfabetização e ganhou fama de aluna dedicada. Na sexta-feira, ao saber que seu nome estava na lista e que supostamente estaria na hora da aula, ela ficou surpresa:

- Nunca me avisaram nada.

As alfabetizadoras Gicélia e Úrsula já receberam R$6.954 desde agosto do ano passado para aplicar os cursos. Nas próximas semanas, ganharão R$2.318 pelas aulas. As informações são da Secretaria de Educação do Distrito Federal. (Demétrio Weber)