Título: PF investiga mais 40
Autor: Werneck, Antônio
Fonte: O Globo, 16/04/2007, Rio, p. 8

Políticos, policiais, empresários e juízes são suspeitos de corrupção e outros crimes.

Pelo menos 40 pessoas continuam sendo investigadas no Rio pela Diretoria de Inteligência Policial (DIP) da Polícia Federal de Brasília, suspeitas de integrarem uma rede de corrupção que envolve crimes como contrabando, tráfico de influência, adulteração de combustíveis e exploração de jogos ilegais. Apenas na esteira da Operação Hurricane (Furacão), desencadeada semana passada, existem mais cinco delegados federais do Rio sob suspeita. Na relação estão políticos, policiais, empresários, advogados e juízes. Eles são alvos de três investigações distintas, desenvolvidas com o apoio do setor de inteligência da PF do Rio.

Parte dos nomes investigados agora apareceu pela primeira vez em 2003, numa relação maior fornecida por um policial federal preso na Operação Planador, servindo de base para várias outras operações, como a Poeira no Asfalto, Cerol e, agora, a Hurricane. Acusado de se beneficiar financeiramente em sucessivas fraudes na emissão de passaportes (o principal objetivo da Planador), o policial recorreu ao benefício da delação premiada e resolveu colaborar com a Justiça.

Autor de denúncia vive sob proteção

O policial denunciou colegas da PF supostamente envolvidos em crimes, apontando ainda uma rede formada por empresários, juízes e políticos que seriam responsáveis por dar proteção às operações criminosas do grupo. Logo que manifestou interesse em denunciar parceiros de crime e outros implicados, o agente foi levado do Rio a Brasília sob forte escolta policial, prestou vários depoimentos e passou a viver sob proteção federal.

A Planador começou a ser preparada pela Polícia Federal em Campos, em 2001, pelo delegado Carlos Pereira, um dos presos agora na Operação Hurricane. Pereira era o chefe da Delegacia da PF em Campos, quando foi procurado por um policial seu que tinha uma denúncia grave a fazer: havia sido procurado para fazer parte de um esquema montado por outros agentes federais e despachantes para falsificação no setor de passaportes da PF, na Praça Mauá. O caso foi encaminhado à direção geral da PF, em Brasília, que resolveu infiltrar o tal agente na quadrilha.

Grupo atuaria há 5 anos dentro da PF

Em agosto de 2003, três anos depois, a Planador foi deflagrada no Rio e mais de 30 pessoas foram presas, entre agentes federais, despachantes, um empresário chinês, dois servidores administrativos e um contratado da PF. Os chefes da operação eram os delegados Ricardo Ennes e Cláudio Nogueira, todos lotados na DIP. Ennes agora trabalha na PF do Rio, como corregedor-geral. Nogueira comandou várias operações no Rio, entre elas a Poeira no Asfalto.

Segundo as investigações, o grupo preso na Operação Planador atuaria há cinco anos na própria Polícia Federal do Rio. Ao todo foram cumpridos 35 mandados de busca e apreensão, expedidos pela Justiça federal, em casas de câmbio, agências de viagem, escritórios de despachantes, papelarias, revendedoras de veículos, lojas de informática e até de produtos de chocolate. O grupo era acusado de falsificação de passaportes, sonegação fiscal, contrabando, lavagem de dinheiro e tráfico de mulheres e de crianças.

Durante as investigações da Operação Planador, o agente federal foi flagrado em escutas telefônicas citando supostos casos de corrupção e tráfico de influência envolvendo policiais federais do Rio. Também mencionava o envolvimento de um grande empresário de Campos em fraudes de combustíveis. Ao ser preso, o policial federal acabou denunciando muito mais gente. Seu depoimento em Brasília nunca foi levado a sério entre seus colegas da PF do Rio. O agente federal chegou a ser chamado de louco por colegas, mas muitos deles acabaram presos ou foram afastados para responder a inquéritos.