Título: Peças viram em empresas de montagem do Rio Grande do Sul
Autor: Otávio, Chico
Fonte: O Globo, 16/04/2007, Rio, p. 9

Caça-níqueis continuavam funcionando perto da sede da PF na Praça Mauá.

Boa parte das peças virou máquinas em empresas de montagem no Rio Grande do Sul. Depois de prontas, foram espalhadas por quatro estados (Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul), onde até hoje o Ministério Público Federal e a Receita tentam recuperá-las, às vezes enfrentando liminares suspeitas, como a concedida pelo desembargador Carreira Alvim a nove locadoras de máquinas do Rio.

Do total de máquinas apreendidas, depois da derrubada da liminar de Macário, há 5 mil que continuam em poder das próprias locadoras, que são fiéis depositárias.

A rede de empresas que sustenta a distribuição de máquinas no país é nebulosa. Uma das montadoras gaúchas, por exemplo, chama-se Multigames e já estava sob investigação desde 2000, por ligações com a máfia dos jogos na Espanha. Algumas das máquinas importadas pela Brasbin estavam num bingo de Friburgo, já fechado pelo MPF.

Geralmente, os caça-níqueis não pertencem aos bingos. São alugados. Com base nas notas fiscais fornecidas pelas locadoras das máquinas importadas em Vitória (e liberadas pelo juiz Macário Júdice), investigações sobre o esquema levaram a 15 empresas, muitas delas apenas de fachada, para esconder os verdadeiros donos do negócio ¿ provavelmente, bicheiros. Há empresas com mais de 12 sócios. Uma delas está sediada numa favela de Duque de Caxias.

Assim como no restante da cidade, máquinas caça-níqueis operam sem qualquer fiscalização em bares vizinhos à sede da Superintendência da Polícia Federal no Rio, na Praça Mauá, para onde foram levados os presos da Operação Hurricane na sexta-feira. No dia seguinte, era possível encontrar apostadores jogando nas máquinas. Bem ao lado da sede do órgão, na Rua Venezuela, um bar mantinha diversos equipamentos de jogo em plena atividade.

Na Rua Sacadura Cabral, atrás da sede da Polícia Federal, além de vários estabelecimentos com caça-níqueis, uma banca do jogo do bicho funcionava normalmente, e diversos apostadores estiveram no local para tentar a sorte.

A existência de caça-níqueis é comum em toda a cidade. Levantamento da prefeitura estima que existam cerca de 30 mil máquinas espalhadas pelo município. No Centro, Zona Sul e Zona Oeste do Rio, não é difícil encontrar padarias, restaurantes, depósitos de bebidas, armarinhos e bares que mantêm equipamentos do jogo ilegal.

Para combater essa prática, o prefeito César Maia publicou dia 11 um decreto que proíbe o uso de caça-níqueis em todo o município. A exploração das máquinas representa dinheiro fácil para donos de estabelecimentos comerciais, que chegam a obter 30% do seu lucro com os equipamentos.

COLABOROU Dênis Kuck