Título: Miséria caiu no mundo, diz Banco Mundial
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 16/04/2007, Economia, p. 31

Em 14 anos, 265 milhões de pessoas deixaram essa condição, mas pobres ainda são 2,6 bi

WASHINGTON. O Banco Mundial (Bird) anunciou ontem, em clima de euforia, a queda da pobreza extrema no mundo, nos primeiros quatro anos deste século, ampliando os tímidos resultados positivos obtidos nos anos 90. Mas, ao mesmo tempo, advertiu que ainda é preciso fazer muito para erradicar esse mal do planeta. No período de 1990 a 2004 265 milhões de pessoas saíram da miséria. Elas estavam no grupo das que sobreviviam com menos de um dólar por dia. Apesar disso, 985 milhões ainda continuavam naquela situação em 2004.

Esse contingente ajudou a manter elevado o número de pessoas que continuavam rotuladas como pobres (as que vivem com, no máximo, dois dólares diários) em 2004: um total de 2,6 bilhões de pessoas.

A melhoria no cenário deveu-se, segundo o Bird, ao fato de que os países em desenvolvimento vêm crescendo mais rapidamente do que os países ricos. Eles tiveram uma média de crescimento de 3,9% a partir de 2000.

Na América Latina, pobreza caiu de 26,2% para 22,2%

No entanto, ao anunciar os dados contidos no informe "Indicadores do Desenvolvimento Mundial 2007", o economista-chefe do banco, François Bourguignon, disse que só isso não garante melhorias sustentáveis:

- O crescimento econômico é essencial para reduzir a pobreza, mas não é o único fator. É preciso considerar também como a renda é distribuída, se os cuidados com a saúde e a educação estão melhorando, e também o acesso aos negócios. Todos esses fatores afetam a qualidade da vida das pessoas - disse Bourguignon.

Na América Latina houve uma redução de quatro pontos percentuais no índice de pobreza, que atingia 26,2% da população em 1990 e caiu para 22,2% em 2004. As cifras sobre o Brasil aparecem de forma incompleta no informe, já que as mais recentes são de 2003 - e são comparadas com as de 1998.

Os registros daquele período trazem um resultado curioso: embora a pobreza em geral tenha caído de 22% em 1998 para 21,5% em 2003 no país, houve um aumento significativo da pobreza urbana: de 14,7% para 17,5%. Já a rural diminuiu de 51,4% para 41%.

O economista-chefe do Bird ressalta um aspecto que, em sua opinião, explica porque o ritmo de queda da pobreza não tem sido maior, em especial na América Latina. Seria a burocracia, que dificulta - e, às vezes, impede - uma pessoa abrir um pequeno negócio.

- Leva-se uma média de 77 dias para conseguir a licença de funcionamento de uma empresa na região - pondera Bourguignon.

Os custos para isso também são mais altos: em alguns países em desenvolvimento - que o Bird evitou identificar no informe - eles seriam até 1.440% mais altos do que nas nações ricas. (José Meirelles Passos)