Título: FMI aluga
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 16/04/2007, Economia, p. 31

Em crise de caixa, organismo busca fontes de recursos e até arrenda sala para restaurante.

Sessenta e dois anos após sua fundação, o Fundo Monetário Internacional (FMI) está necessitando de algo que foi justamente criado para combater: o surgimento de uma crise financeira internacional. Se isso não acontecer, o Fundo ficará sem dinheiro para custear suas próprias despesas. A menos que a sua diretoria encontre novas formas de obter recursos.

O FMI depende dos juros do dinheiro que empresta. E, atualmente, há nada mais do que US$14,4 bilhões emprestados. Esse volume não é suficiente sequer para gerar recursos que permitam pagar os salários dos funcionários (eles equivalem a pouco mais de 70% dos gastos administrativos). E o rombo nas finanças internas do organismo que monitora as contas dos países em desenvolvimento está aumentando.

O déficit de 2007, previsto inicialmente em US$88 milhões, já está chegando a US$105 milhões. E, se não for encontrada uma saída urgente, ele continuará subindo. A estimativa é de que, em 2010, o buraco seja quase quatro vezes maior: US$372 milhões.

A preocupação aumentou quando funcionários do FMI, temendo por seus empregos, notaram dias atrás o aparecimento de um cartaz na parede externa do piso térreo do novo prédio de 12 andares construído como anexo à sede (por US$180 milhões) e inaugurado dois anos atrás. Trata-se de um cartaz de aluga-se. Nele, o Fundo oferece o espaço especificamente para um restaurante.

Bill Murray, porta-voz do FMI, disse ontem ao GLOBO que a busca de um inquilino não teria a ver com a penúria do organismo, mas com uma obrigação municipal:

¿ A lei de zoneamento nessa área do centro exige que uma parcela dos edifícios de entidades como o FMI seja aberta ao público. Por isso achamos que o ideal seria alugar para um restaurante ¿ disse ele, sem, no entanto, saber explicar por que tal exigência não fora aplicada ao edifício principal da sede do Fundo, que fica ao lado do novo, tampouco à sede do Banco Mundial.

Financiamento passa por revisão

Estudo encomendado pelo FMI à uma comissão especial de economistas não pertencentes à casa, em busca de sugestões de novas formas de arrecadação, foi debatido no último fim de semana pelos ministros dos 185 países-membros do Fundo, após os comentários de seu principal autor, Andrew Crockett, ex-chefe do Banco de Compensações Internacionais.

Eles deixaram para definir mais adiante se aceitam as opções sugeridas: a venda de 400 quilos de ouro das reservas do Fundo, investindo no mercado financeiro o que for apurado; passar a cobrar por serviços prestados aos países; e aplicar no mercado de ações parte das cotas pagas pelos países.

¿ É difícil justificar um modelo de financiamento no qual, quanto melhor o Fundo faz seu trabalho, pior fica a sua arrecadação ¿ atesta Rodrigo de Rato, diretor-gerente do FMI.

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