Título: Vitória esmagadora de Correa
Autor: Costa, Mariana Timóteo da
Fonte: O Globo, 16/04/2007, O Mundo, p. 36

Equador aprova Assembléia Constituinte com 78,1% dos votos, fortalecendo presidente

Mariana Timóteo da Costa

Opresidente do Equador, Rafael Correa, obteve ontem uma vitória política acachapante e a mais importante de seu governo de pouco mais de três meses. Segundo pesquisas de boca-de-urna da rede de TV Ecuavisa e do Instituto Cedatos-Gallup, os equatorianos aprovaram com 78,1% dos votos a instauração da Assembléia Constituinte de plenos poderes, cuja intenção é modificar a Constituição do Equador. O "não" obteve 11,5%, os votos nulos foram 7% e os brancos, 3,3%. O resultado oficial, no entanto, só deve sair no dia 24.

- O "sim" foi uma vitória da democracia, um instrumento de poder do cidadão. Eu sou transitório, a pátria é eterna. Espero agora que o povo saiba diferenciar os candidatos da assembléia e não escolher lobos em pele de cordeiro - disse o presidente.

O presidente afirmou que pretende implantar um modelo econômico "equatoriano e para equatorianos" e reafirmou que manterá a dolarização da economia.

- Aqui não é a Venezuela - disse, respondendo aos que o comparam ao presidente venezuelano, Hugo Chávez.

Correa aproveitou a vitória para anunciar que saldou a dívida de US$40 milhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e que não pretende ter mais qualquer relação com o que chamou de "burocracia internacional". Sem citar nomes, ele anunciou ainda que expulsará do país o representante do Banco Mundial, a quem acusou de tentar chantageá-lo em 2005 (quando era ministro da Economia) para liberar um empréstimo de US$100 milhões que já havia sido aprovado. A representação do Banco Mundial no país é ocupada pelo brasileiro Eduardo Somensato.

Oposição teme revés econômico

Correa votou de manhã, num colégio em Quito. Apesar dos esforços da Polícia e do Exército para conter o tumulto, uma multidão cercou o presidente no momento da votação, entoando slogans de sua campanha. Do lado de fora, frases pichadas nos muros criticavam o presidente, classificando-o de ditador e acusando-o de querer usar a assembléia para acabar com a dolarização.

A segurança em todo o Equador foi reforçada para o plebiscito, devido à crise política no país, que gerou uma queda-de-braço entre Executivo e Legislativo, com vitória também de Correa, que conseguiu a substituição de 57 deputados que haviam atrapalhado o processo do referendo. Observadores internacionais da Organização dos Estados Americanos (OEA) monitoraram postos de votação em todo o país e afirmaram que tudo correu relativamente bem.

- O povo vai escolher se o país quer estar mais próximo de um Chile ou de uma Espanha, de uma Bolívia ou de uma Venezuela - disse o prefeito conservador de Guayaquil, Jaime Nebot, bastante popular no país.

Apesar de ser de um partido de oposição a Correa, Nebot votou pelo "sim", afirmando achar que o presidente merece um voto de confiança em suas propostas de mudar radicalmente o Equador.

- Não estamos elegendo ditadores, estamos elegendo governantes - disse Nebot, rebatendo as críticas de que a assembléia possa servir de veículo para Correa se perpetuar no poder.

O maior temor dos críticos é que o país - que vem registrando melhorias em seus indicadores econômicos e sociais nos últimos anos, apesar de ainda ter grande desigualdade - retroceda economicamente durante o processo da assembléia . O argumento é que o governo gastará muito tempo e dinheiro em campanha para garantir adeptos na assembléia.

- Estarei mesmo em campanha nos próximos quatro anos, campanha contra a miséria e o derrotismo, levantando o astral do país, que precisa entender que não sou um político tradicional - disse o presidente.

Com a aprovação do "sim", os candidatos à assembléia terão 45 dias para apresentar suas candidaturas, e mais 45 para fazer campanha. Então, os equatorianos vão às urnas novamente, escolher os 130 assembleístas, que terão 180 dias (renováveis por mais 60) para formular a nova Constituição. O texto será levado a novo referendo para ser aprovado.

Outro medo é que ocorra uma crise como a da Bolívia, onde nenhuma cláusula da Constituinte, que já está sendo formulada há oito meses, foi aprovada. Ou ainda que Correa siga seu maior aliado na região, Hugo Chávez que, por causa da Constituição alterada em seu governo, perpetua-se no poder.