Título: Desaparecidos: Câmara cobra informações
Autor: Lima, Maria e Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 17/04/2007, O País, p. 4

Comissão de Direitos Humanos vai pedir ao governo novas buscas a documentos

BRASÍLIA. A Comissão de Direitos Humanos da Câmara vai cobrar de autoridades do governo novas buscas sobre documentos que possam apontar as circunstâncias de mortes e a localização de ossadas de desaparecidos políticos. A comissão pretende também realizar uma audiência pública, com integrantes do governo, para retomar a discussão sobre o assunto, que ganhou novo capítulo com a divulgação de informações, atribuídas a militares, sobre desaparecidos e mortos políticos.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Luiz Couto (PT-PB), pede também que o Ministério Público responsabilize agentes públicos que tenham sonegado informações sobre as vítimas do regime militar. A comissão quer ouvir representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), da Advocacia Geral da União, do Ministério Público Federal e da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.

Livro conta história da prisão e morte de 23 pessoas

A série de solicitações foi uma resposta a uma reportagem publicada pelo jornal "Estado de Minas", que divulgou detalhes sobre um suposto livro secreto produzido pelo Exército entre 1986 e 1988 - "Livro negro do terrorismo no Brasil" - e que faria referências à omissão, por parte dos militares, de informações sobre mortos e desaparecidos políticos.

O livro conta a história da prisão ou morte de 16 militantes do PCdoB que atuaram na Guerrilha do Araguaia, na década de 70, e também de outros sete comunistas de grupos como Movimento de Libertação Popular (Molipo) e Ação Libertadora Nacional (ALN).

A revelação da existência do livro ocorre no momento em que foi divulgado, há duas semanas, relatório da comissão criada pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para levantar informações sobre desaparecidos políticos. O grupo interministerial nada descobriu, depois de ter solicitado os documentos às três Forças Armadas.

O livro enaltece torturadores, como o delegado Sérgio Paranhos Fleury, chamado de doutor no texto. Ele é apontado como "incansável lutador contra o terrorismo no Brasil". Produzido pelo Exército, o livro seria um contraponto ao "Brasil: nunca mais", que relata casos de tortura na época da ditadura militar.