Título: Governo aproveita o racha: DEM quer CPI no Senado, e PSDB, na Câmara
Autor: Lima, Maria e Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 17/04/2007, O País, p. 4

Chinaglia afirma que início da investigação só depende de decisão do STF.

BRASÍLIA. Dividida sobre qual a melhor estratégia para garantir a eficácia da provável CPI do Apagão Aéreo, a oposição pode acabar beneficiando o governo, que não quer seu funcionamento no Senado. Ontem, líderes do PSDB e do DEM aprofundaram o racha: os ex-pefelistas querem a investigação do caos aéreo e das denúncias de corrupção na Infraero no Senado, onde a oposição é mais forte; já os tucanos insistem para que ela aconteça na Câmara, onde o governo teria o controle.

Durante todo o dia, os articuladores do governo, o líder José Múcio (PTB-PE) à frente, discutiram estratégias para abortar a apresentação do requerimento do DEM, que já tem 28 assinaturas, para criar a CPI no Senado. Diante de insinuações de que o PSDB paulista teria um acordo com o PT - para impedir, em contrapartida, a CPI do buraco do metrô em São Paulo - o líder do partido na Câmara, Antônio Carlos Pannunzio (SP), desmarcou um jantar com Múcio.

Múcio almoçou com o ministro das Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia, e com o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), no Planalto. À noite jantaria com Pannunzio e com os deputados José Carlos Aleluia (DEM-BA) e Ronaldo Caiado (DEM-GO). O assunto, a CPI.

Procurador no TCU aprova a participação da PF

Diante da pressão do governo para que a CPI se restrinja à Câmara - se não puder ser evitada - o Democratas anunciou que proporá ao PSDB que os senadores conduzam a investigação. O líder do DEM, senador Agripino Maia (RN), disse ter o apoio do presidente do partido, deputado Rodrigo Maia (RJ), e do líder da bancada na Câmara, Onyx Lorenzoni (RS):

- Acho que a CPI deve ser instalada só no Senado. Claro que não vou decidir sozinho. Mas aqui temos uma correlação de forças mais equilibrada entre governo e oposição.

Pannunzio, no entanto, avisou que os deputados do PSDB não abrem mão de participar da investigação:

- A CPI nasceu de um esforço da bancada do PSDB na Câmara. Colhemos assinaturas, fomos vítimas de manobras do governo e recorremos ao STF. Não abrimos mão desse direito.

Sintonizado com a articulação governista, Chinaglia rebateu a idéia de duas CPIs:

- Seria um esforço em dobro para fazer uma investigação que qualquer CPI ou qualquer organismo poderia fazer. A CPI na Câmara está na dependência de uma decisão do Supremo. Independe do que a Polícia Federal ou qualquer outro órgão vier a fazer. Se o Supremo decidir por instalar, será instalada - disse.

No Tribunal de Contas da União (TCU), onde auditorias sobre alguns obras em aeroportos vêm sendo realizadas, o procurador chefe junto ao Ministério Público, Lucas Furtado, considerou positiva a investigação pela PF, que teria sido pedida pelo presidente Lula:

- A grande vantagem é que a PF tem instrumentos para quebrar sigilos, já que TCU e CGU só podem ver fraudes a partir do que está no papel, nos contratos, licitações, não pode quebrar sigilo para ver se fulano de tal recebeu propina ou desviou recursos de tal superfaturamento - disse Furtado.

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