Título: Distrito Federal vai investigar alunos fantasmas
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 17/04/2007, O País, p. 8

Corregedoria-Geral vai apurar irregularidades nas turmas do programa Brasil Alfabetizado.

BRASÍLIA. A secretária de Educação do Distrito Federal, Maria Helena Guimarães de Castro, informou ontem que pedirá à Corregedoria-Geral do DF que investigue a existência de turmas e alunos-fantasmas no programa Brasil Alfabetizado, principal ação do governo Lula para combater o analfabetismo no país. A intenção é fazer também um pente-fino em outros 130 convênios da Subsecretaria de Educação Pública do Distrito Federal. Como O GLOBO revelou ontem, o cadastro do Brasil Alfabetizado registra quatro turmas, com 97 matrículas, na cidade-satélite de Engenho das Lajes, a 55 quilômetros de Brasília. Mas moradores e estudantes dizem que o curso de alfabetização não funciona no local.

- O caso está sendo encaminhado para a Corregedoria-Geral do Distrito Federal. A reportagem aponta uma série de problemas que achamos que a corregedoria vai ter que averiguar. Depois de apurados esses problemas, as pessoas responsáveis serão devidamente punidas - afirmou Maria Helena, que foi secretária-executiva e ministra interina da Educação no governo Fernando Henrique.

O Brasil Alfabetizado é financiado pelo Ministério da Educação (MEC), que prevê investir este ano cerca de R$315 milhões. Procurado ontem, o MEC não quis se manifestar.

As quatro turmas de Engenho das Lajes fazem parte do convênio firmado entre o ministério e o governo do Distrito Federal no ano passado, quando o então governador Joaquim Roriz (PMDB) passou o cargo à vice-governadora Maria de Lourdes Abadia (PSDB) para candidatar-se a senador. O MEC financia 131 turmas no Distrito Federal.

Alfabetizadoras serão ouvidas pela secretaria

Maria Helena criticou o descontrole da gestão anterior:

- Os convênios eram feitos e os responsáveis não tinham nenhum tipo de cobrança. Faltava um sistema de acompanhamento profissional e eficiente. Em outra frente de ação, a secretaria vai realizar inspeção no local para ouvir as duas alfabetizadores responsáveis pelas quatro turmas de Engenho das Lajes: Gicélia Lanes Vasques e Ursula Andréia Lopes. São elas que repassam à secretaria as informações sobre a presença dos alunos e seu aprendizado. As duas afirmam que os cursos existem e atribuem as declarações dos alunos e moradores a desavenças pessoais.

A inspeção será coordenada pela subsecretária de Planejamento e Inspeção de Ensino, Solange Maria Paiva Castro, e o subsecretário de Educação Pública, Álvaro Chrispino. Segundo Chrispino, a coordenadora do Brasil Alfabetizado na Secretaria da Educação, Rosangela Maria Pinheiro, não conduzirá a apuração para dar mais transparência ao processo.

Na semana passada, Rosangela disse ao GLOBO que nunca havia ido a Engenho das Lajes e que só conhecia as alfabetizadoras de encontros nos cursos de formação. Gicélia e Ursula, porém, afirmaram que a coordenadora já esteve na casa dos pais de Gicélia, numa confraternização. Rosângela confirmou depois a informação, mas disse que havia feito uma visita de caráter pessoal.