Título: 'Não vamos comer um prato feito'
Autor: Gois, Chico de e Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 17/04/2007, Economia, p. 17

Brasil só adere ao Banco do Sul se participar da criação, diz Marco Aurélio Garcia

PORLAMAR, Venezuela, e NOVA YORK. O assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, descartou a possibilidade de que o Brasil formalize sua adesão ao Banco do Sul - projeto elaborado pelos presidentes da Argentina, Néstor Kirchner, e Venezuela, Hugo Chávez, como um banco de fomento regional - durante a Cúpula Energética Sul-americana.

- Não vamos aderir a um projeto pronto. Não vamos comer um prato feito. Queremos ir para a cozinha e participar da elaboração desse prato - afirmou.

Segundo o assessor presidencial, existem muitas dúvidas técnicas a respeito do projeto, como o caráter e os objetivos da instituição, o destino que será dado à Cooperativa Andina de Crédito e a fonte de recursos.

Garcia disse que o Brasil concorda com a proposta do presidente do Equador, Rafael Correa, de realizar uma reunião de ministros da Fazenda para encaminhar o projeto. Ele lembrou também que o Brasil foi o primeiro a sugerir a criação de um banco local na comissão de reflexão da Comunidade Sul-americana de Nações.

No fim de semana, durante reunião do FMI em Washington, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o Brasil vai aderir ao Banco do Sul, mas também se recusou a aceitar o formato proposto por Chávez e Kirchner. Garcia reiterou essa posição.

- Se é para entrar em um projeto feito, (a resposta é) não. Isso nós dissemos desde o início. Queremos participar da elaboração de um projeto. Acho que merecemos a confiança e o respeito dos outros países para participarmos - afirmou.

Ontem, em Nova York, onde se reuniu com os executivos da agência de risco Moody"s, o ministro confirmou que a participação do Brasil no projeto do Banco do Sul está condicionada à adoção de um perfil técnico para a instituição:

- O Brasil participará desse novo banco de desenvolvimento regional se ele obedecer aos padrões internacionais de garantia, com um rating sério e um importante aporte de capital de todos os países participantes do Mercosul. (Ricardo Galhardo, enviado especial, e Marília Martins, correspondente)